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MPF recomenda transformar antigo prédio do Dops em centro de memória e direitos humanos

Prédio histórico poderá virar símbolo de memória e reparação

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O Ministério Público Federal (MPF) recomendou ao Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) e à Secretaria do Patrimônio da União (SPU) que tomem providências, no prazo de 60 dias, para transformar o antigo prédio do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) em um centro de memória em defesa dos direitos humanos e das vítimas da violência de Estado.

O imóvel, localizado no Rio de Janeiro, foi doado ao extinto Estado da Guanabara nos anos 1960, com a condição de uso para fins policiais. No entanto, essa destinação não foi cumprida, e o prédio encontra-se abandonado há mais de 15 anos, em estado de forte deterioração.

Reversão ao patrimônio da União

Segundo o MPF, um parecer técnico do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) apontou que os termos da cessão foram violados, o que justifica a reversão do imóvel ao patrimônio federal.

A partir de representação do coletivo RJ Memória Verdade Justiça e Reparação, um inquérito civil público foi instaurado em março de 2024. Em visita técnica realizada em junho do mesmo ano, foram constatadas não apenas as condições críticas da estrutura, mas também a presença de carceragens e documentos históricos ainda preservados.

“Espaços como o Dops não podem ser apagados”, diz procurador

O procurador regional adjunto dos Direitos do Cidadão, Julio Araujo, declarou que a transformação do prédio “é uma medida de justiça e reparação histórica”. Para ele, a preservação do espaço reforça o compromisso do Estado com a verdade, democracia e os direitos humanos.

“Locais como o antigo Dops não podem ser esquecidos ou apagados. Eles precisam ser ressignificados como espaços de resistência, lembrança e aprendizado para as futuras gerações.”

Acervo documental

O MPF solicitou que o estado do Rio de Janeiro e a Polícia Civil não dificultem o acesso da União ao imóvel. A própria Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol) reconheceu não ter meios de manter a preservação, e mostrou-se aberta ao diálogo. O MDHC também demonstrou interesse em firmar acordo com o governo estadual para a viabilização do projeto, com apoio e financiamento federais.

Valor simbólico e histórico do prédio

O edifício tem profundo valor simbólico e político. Foi sede da Polícia Central desde o início do século XX, e palco de ações repressivas, como a criminalização da população negra após a abolição, e a perseguição de religiões de matriz africana. Durante a ditadura militar, foi um dos principais centros de tortura no país.

Em 2020, graças à campanha “Liberte Nosso Sagrado”, com participação do MPF, foi possível recuperar objetos religiosos apreendidos injustamente pelo Estado.

Autor

  • Jornalista formado pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Com experiência em Política, Economia, Meio Ambiente, Tecnologia e Cultura, tem passagens pelas áreas de reportagem, redação, produção e direção audiovisual.

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