A crescente demanda de energia no Paraguai levou a direção da Itaipu Binacional a reabrir os estudos sobre a possível instalação de duas novas turbinas geradoras na usina hidrelétrica — o que representaria aumento de até 10% na estrutura atual.
Segundo o diretor-geral brasileiro, Enio Verri, a ampliação é “inevitável”, embora ainda não viável no curto prazo. “Estamos discutindo apenas a data em que estaremos maduros para esse investimento”, afirmou, em encontro com jornalistas.
Crescimento do consumo paraguaio
O projeto responde à constante elevação do consumo energético do Paraguai, impulsionado por atividades de alta demanda, como mineração de criptomoedas, data centers e inteligência artificial. Em 1985, o Brasil absorvia 95% da energia gerada por Itaipu. Atualmente, essa participação caiu para 69%, com os paraguaios consumindo os 31% restantes — proporção que, segundo projeções oficiais, deve alcançar os 50% até 2035.
Brasil e Paraguai dividem a posse da hidrelétrica, assim como o consumo de energia, cargos e decisões a se tomar. Um exemplo é o cargo de diretor-geral: Existe um brasileiro (Enio Verri) e um paraguaio (Justo Zacarias).
Ampliação exige estudos amplos e acordo bilateral
Embora exista, na estrutura da usina, espaço físico para duas unidades adicionais, a decisão depende de uma série de condicionalidades: viabilidade técnico-econômica, avaliação ambiental e social, e entendimento entre os governos e parlamentos de Brasil e Paraguai.
Enio Verri destacou que a construção de novas turbinas hoje seria muito diferente da realizada na época de fundação de Itaipu, durante a ditadura militar. “Nós temos comunidades, tem os efeitos sobre a população. Uma coisa é você construir uma usina na ditadura militar. Outra coisa é você construir uma usina agora”, pontuou.
“Isso envolve um grande estudo estratégico porque envolve políticas ambientais, políticas sociais, as comunidades que serão atingidas versus a relação e benefícios que isso pode trazer à sociedade”, diz Verri.
Sem perspectiva de retorno financeiro imediato, a expansão ainda não pode ser executada. A direção da usina considera viável buscar recursos por meio de bancos multilaterais de fomento, como o Banco Mundial ou o BNDES, com pagamento via tarifa de energia. O impacto seria diluído ao longo dos anos e, segundo analisa o diretor, com “valor pequeno” para o consumidor final.
Paraguai e Brasil
Hoje, a energia excedente do Paraguai deve ser vendida ao Brasil a preço de custo. Mas, a partir de 2027, o país poderá comercializar sua cota livremente — inclusive com terceiros países ou no mercado livre brasileiro. Isso diminuiria, significativamente, a quantidade de energia barata contratada anteriormente de forma praticamente automática pelo Brasil.
Enio Verri relativiza o possível impacto da perda parcial de energia paraguaia. Segundo ele, o Brasil tem avançado em fontes renováveis alternativas como a solar e a eólica — especialmente no Nordeste, região em que já há sobras ocasionais de geração intermitente. Mesmo assim, considera que o momento exige planejamento estratégico e cooperação regional para garantir segurança energética futura.
“Estamos crescendo a oferta de intermitente [solar e eólica, por exemplo] também. Aliás, no Nordeste temos excesso de oferta intermitente. Então, não me parece que seja um grande problema”, avalia.