O Brasil atingiu, em 2023, o menor número de homicídios desde 2014, com 45.747 mortes registradas, segundo o Atlas da Violência 2025, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado nesta segunda-feira (12). A taxa nacional foi de 21,2 homicídios por 100 mil habitantes, uma redução de 2,3% em relação a 2022, consolidando uma tendência de queda iniciada há mais de sete anos em 11 estados brasileiros.
Os menores índices de homicídios foram registrados no Sul, São Paulo, Minas Gerais e no Distrito Federal. Em contrapartida, as regiões Norte e Nordeste ainda concentram as maiores taxas.
Fatores que explicam a redução
O relatório aponta uma combinação de fatores que contribuem para a queda da violência letal:
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Transição demográfica, com envelhecimento populacional, especialmente nas regiões Sudeste e Sul.
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Redução de conflitos entre facções criminosas, que vinham elevando os índices de violência nos anos anteriores.
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Uma chamada “revolução invisível” nas políticas de segurança pública, com mais uso de inteligência, planejamento e prevenção social, substituindo práticas baseadas apenas no policiamento ostensivo.
Homicídios ocultos ainda preocupam
Apesar da redução, o Brasil enfrenta um problema grave: a subnotificação dos homicídios. Entre 2013 e 2023, 135.407 mortes por causas externas foram registradas sem definição da intencionalidade (acidente, suicídio ou homicídio). Esses casos são classificados como Mortes Violentas por Causa Indeterminada (MVCI).
Utilizando inteligência artificial, os pesquisadores estimaram que 51.608 dessas mortes foram, na verdade, homicídios ocultos — uma média de 4.692 por ano. Se considerados esses dados, o número real de homicídios na última década pode ter sido de 650.007, e não os 598.399 oficialmente registrados.
Em analogia, os autores comparam essa tragédia à queda de 100 aviões Boeing 747 cheios, sem sobreviventes — uma dimensão dramática da violência invisibilizada no país.
Esforços para melhorar os dados
Em resposta ao alerta do Atlas da Violência 2024, 21 estados brasileiros conseguiram reduzir os homicídios ocultos entre 2022 e 2023, demonstrando esforços em qualificar os dados.
O Espírito Santo é um exemplo positivo: com um grupo de trabalho interinstitucional, o estado reduziu de 205 para apenas 7 homicídios ocultos entre 2022 e 2023 — a menor taxa proporcional do país. A estratégia envolveu a integração de dados entre os sistemas de saúde e segurança pública, o que possibilitou maior precisão na determinação das causas de morte.