Em pronunciamento realizado em cadeia nacional de rádio e televisão na noite desta quinta-feira (17), o presidente Lula (PT) classificou a tarifa de 50% a produtos brasileiros imposta pelos Estados Unidos, como “chantagem inaceitável”. O chefe do governo afirmou que responderá com diplomacia às ameaças do governo de Donald Trump, e ressaltou que ninguém está acima da lei.
Lula afirmou que as instituições atuam para proteger a sociedade dos riscos representados pelos discursos de ódio e anti-ciência disseminados nas redes digitais. Durante seu pronunciamento, o presidente enfatizou a importância de utilizar as redes de forma consciente, e combater práticas criminosas.
“É preciso proteger as famílias brasileiras de indivíduos e organizações que se utilizam das redes digitais para promover golpes e fraudes, cometer crime de racismo, incentivar a violência contra as mulheres e atacar a democracia, além de alimentar o ódio, violência e bullying entre crianças e adolescentes, em alguns casos levando à morte, e desacreditar as vacinas, trazendo de volta doenças há muito tempo erradicadas”, declarou o presidente.
Ao destacar a independência do Judiciário, o presidente afirmou que o país respeita o devido processo legal. “Tentar interferir na justiça brasileira é um grave atentado à soberania nacional”, disse.
“Chantagem inaceitável”
O presidente ressaltou que o Brasil sempre esteve disposto a negociar com os Estados Unidos desde maio, quando o governo norte-americano impôs uma tarifa de 10%. Lula classificou de “chantagem” o uso de informações econômicas falsas para justificar as ameaças realizadas.
“Fizemos mais de dez reuniões com o governo dos Estados Unidos, e encaminhamos, em 16 de maio, uma proposta de negociação. Esperávamos uma resposta, e o que veio foi uma chantagem inaceitável, em forma de ameaças às instituições brasileiras, e com informações falsas sobre o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos”, declarou.
O governo brasileiro tem se reunido com representantes dos setores produtivos, da sociedade civil e dos sindicatos para tentar negociar com o Estados Unidos. A iniciativa reúne diferentes áreas da economia, como a indústria, o comércio, serviços e o setor agrícola.
“Estamos juntos na defesa do Brasil. E faremos isso de cabeça erguida, seguindo o exemplo de cada brasileiro e cada brasileira que acorda cedo, e vai à luta para trabalhar, cuidar da família e ajudar o Brasil a crescer. Seguiremos apostando nas boas relações diplomáticas e comerciais, não apenas com os Estados Unidos, mas com todos os países do mundo”, acrescentou.
Lula reafirmou que o governo pode usar todos os instrumentos legais para defender a economia, desde recursos na Organização Mundial de Comércio (OMC) até a Lei da Reciprocidade, aprovada apelo Congresso. Ele também destacou que, em dois anos e meio, o Brasil abriu 379 novos mercados para seus produtos no exterior.
“Traidores da pátria”
O presidente classificou os apoiadores desses ataques como “traidores da pátria”, e manifestou sua indignação afirmando que os mesmos não se importam com a economia do país e os danos causados ao povo brasileiro.
“Minha indignação é ainda maior por saber que esse ataque ao Brasil tem o apoio de alguns políticos brasileiros. São verdadeiros traidores da pátria. Apostam no quanto pior, melhor”, declarou.
Big techs
O presidente ressaltou que todas as empresas que atuam no Brasil devem cumprir a legislação brasileira e acrescentou que a fiscalização das plataformas digitais estrangeiras, citadas por Trump para justificar a imposição da tarifa, visa defender a soberania nacional.
“Para operar no nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras são obrigadas a cumprir as regras”, destacou.
Pix
Em relação ao Pix, Lula declarou que o governo não aceitará ataques à ferramanta, que classificou como o sistema de pagamento mais avançado do país.
“O Pix é do Brasil. Não aceitaremos ataques ao Pix, que é um patrimônio do nosso povo. Temos um dos sistemas de pagamento mais avançados do mundo, e vamos protegê-lo”, comentou.
Dados comerciais e ambientais
Ao ser acusado pelo governo norte-americano de práticas comerciais desleais, o presidente apresentou números para desmentir essas alegações.
“Os Estados Unidos acumulam, há mais de 15 anos, um robusto superávit comercial de US$ 410 bilhões [com o Brasil]”, declarou.
Em relação ao desmatamento, o presidente ressalta que o Brasil é referência mundial na defesa do meio ambiente.
“Em dois anos, já reduzimos pela metade o desmatamento da Amazônia. E estamos trabalhando para zerar o desmatamento até 2030”, afirmou.
Ao final do pronunciamento, o presidente reforçou o compromisso do país com o diálogo e a cooperação internacional:
“Não há vencedores em guerras tarifárias. Somos um país de paz, sem inimigos. Acreditamos no multilateralismo e na cooperação entre as nações. Mas que ninguém se esqueça: o Brasil tem um único dono: o povo brasileiro”, concluiu Lula.