Há 61 anos, em 31 de março de 1964, os militares iniciaram o golpe que depôs o então presidente João Goulart. No entanto, especialistas apontam que a tomada de poder só se concretizou em 1º de abril. Segundo o professor de História Pierre Grangeiro, a escolha dos militares pela data oficial não foi coincidência.
“Por que eles não vão colocar essa data? Justamente por ser o Dia da Mentira. Então, para os militares, não seria viável ter como data oficial, daquilo que consideravam uma revolução, um dia como 1º de abril. Por isso, anteciparam para um dia antes, quando as tropas se movimentaram. Mas o golpe mesmo ocorreu no dia 1º de abril”, afirmou.
O impacto da ditadura militar
A ditadura militar durou 21 anos, período marcado pela suspensão de eleições diretas, censura à imprensa e repressão política. De acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (31) pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), a Comissão Nacional da Verdade identificou 434 mortes e desaparecimentos políticos durante a investigação do colegiado, entre 2012 e 2014.
O levantamento reforça que a violência do regime não foi uniforme, mas se estendeu por décadas. A comissão investigou graves violações de direitos humanos entre 1946 e 1988, com maior foco na ditadura militar que aconteceu entre 1964 e 1985.
Neste ano de 2025, também se completam 40 anos da redemocratização, consolidada com a posse do presidente José Sarney em 1985. O professor Grangeiro destaca que, por muito tempo, o regime militar foi pouco estudado. “Durante muito tempo, esse período foi mal analisado. E a gente vê que, infelizmente, uma boa parte da sociedade apoiou e ainda apoia esse tipo de modelo autoritário, algo que vem desde a época colonial, mas que se exacerbou a partir das ditaduras que ocorreram no século XX”, analisa.
Preservação da memória
O Instituto Vladimir Herzog — organização cujo nome homenageia o jornalista assassinado pelo regime — aponta que, das 27 recomendações da Comissão Nacional da Verdade, apenas seis foram parcialmente cumpridas. Entre os pontos negligenciados, está a criação de um órgão permanente para dar seguimento às investigações. Além disso, sete recomendações sofreram retrocessos, incluindo a falta de legislação para impedir eventos oficiais que celebrem o golpe de 1964.
Sobre a importância da memória, Grangeiro destaca algumas iniciativas: “Isso precisa ser debatido, precisa ser tema de projetos de lei e políticas. Devemos abrir mais uma vez os arquivos da ditadura para saber o que realmente aconteceu naquela época”, conclui.