Três governadores alinhados à direita são citados como alternativas presidenciais: Ratinho Júnior (PSD-PR), Romeu Zema (Novo-MG) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). Os três têm apostado em privatizações para criar uma agenda favorável ao mercado e atrair os segmentos mais moderados da direita. Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Quaest, em dezembro de 2024, revelou que Ratinho, Zema, Tarcísio e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), são bem avaliados em seus estados (ver tabela abaixo). Esse capital político pode impulsionar suas ambições em nível nacional, além de consolidar suas posições como cabos eleitorais para eleger seus sucessores nos estados.
Romeu Zema
Desde 2019, quando iniciou seu primeiro mandato em Minas Gerais, Romeu Zema tem buscado privatizar estatais, mas sem sucesso. Ele chegou a propor a venda da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), porém o projeto foi arquivado pela Assembleia Legislativa do estado.
No mesmo ano, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) concluiu, em seu relatório final, que a gestão Zema contribuiu para o enfraquecimento da companhia, com o objetivo de facilitar sua privatização, o que gerou resistência aos movimentos em defesa da desestatização da empresa. Apesar dos obstáculos, recentemente Zema enviou à Assembleia propostas de venda da Cemig e da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), mas essas propostas não foram bem recebidas pelos parlamentares governistas.
Para privatizar as empresas estatais em Minas Gerais, o governo precisaria de um referendo, pois a Constituição exige consulta pública antes da venda. Desde o ano passado, o governo tenta aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para retirar essa exigência, mas a PEC está emperrada na Assembleia. No Paraná, o governador Ratinho Júnior também enfrenta dificuldades para avançar com as privatizações. Embora tenha conseguido privatizar a Companhia Paraense de Energia (Copel) e aprovar a venda da Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná (Celepar), a terceirização de escolas ainda não avançou. Embora tenha sido aprovada pela Assembleia, a proposta depende de uma consulta pública à população sobre quais unidades serão transferidas para entidades privadas e também de uma investigação do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR).
Tarcísio de Freitas
Em São Paulo, Tarcísio de Freitas tem avançado nas privatizações. Neste ano, seu governo concluiu a venda de 32% da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), arrecadando R$ 14,8 bilhões. Além disso, vendeu o controle da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), arrecadando mais de R$ 1,04 bilhão. O governo paulista também avançou em concessões, como o Trem Intercidades São Paulo-Campinas e o lote de rodovias do litoral paulista. Apesar da oposição de setores da esquerda, alguns governadores têm conseguido avançar na agenda de privatizações, modernizando estatais e gerando recursos para os cofres públicos. Essa agenda tem ajudado os governadores a manter a popularidade e a fortalecer seus projetos para 2026.
Ratinho Júnior
Ratinho, por sua vez, é um nome popular no Paraná, mas depende da decisão do PSD em apoiar uma candidatura própria. Embora o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, tenha afirmado que Ratinho será o candidato a presidente, a resistência nos estados onde o partido mantém proximidade com o governo Lula pode representar um obstáculo. Já Zema, embora governe o segundo maior estado do país, está filiado a um partido com estrutura partidária fraca e sem acesso garantido ao tempo de TV, o que pode dificultar seus planos de uma candidatura presidencial. Portanto, apesar do bom desempenho dos governadores e do potencial para liderar um movimento de renovação na direita, o ano de 2025 promete ser complexo para todos eles.
Desafios para os governadores
No entanto, esses governadores enfrentam desafios. Ronaldo Caiado, por exemplo, foi condenado por abuso de poder político e perdeu seus direitos políticos por oito anos, após decisão liminar da Justiça Eleitoral de Goiás. Embora ainda caiba recurso ao TRE-GO e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Caiado terá de lidar com essa pendência jurídica e política. Ratinho Júnior, apesar de ser apontado como um potencial presidenciável pelo PSD, provavelmente não contará com o apoio do bolsonarismo, já que o PL tende a lançar uma candidatura própria. Ainda assim, Ratinho poderá ser uma aposta do PSD, caso o partido decida lançar um candidato em 2026.
Romeu Zema, em Minas Gerais, também enfrenta dificuldades em sua relação com o bolsonarismo. Após lançar o vice-governador, Mateus Simões (Novo), como pré-candidato ao Palácio da Liberdade, a aliança com o bolsonarismo local pode ser rompida, com o apoio a nomes como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) ou o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) para o governo mineiro. Nesse cenário, Zema dificilmente será o candidato bolsonarista à Presidência, embora permaneça uma figura importante em uma possível composição de candidaturas na direita, considerando sua liderança no segundo maior estado do país.
Embora Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Ratinho Júnior e Romeu Zema sejam protagonistas no cenário de 2026, o contexto é marcado por incertezas. Com Jair Bolsonaro ainda insistindo em ser candidato, apesar de sua inelegibilidade, Tarcísio terá dificuldades para avançar na construção de um projeto nacional. No final de 2024, ele afirmou ser pré-candidato à reeleição em São Paulo. Caiado também enfrenta problemas jurídicos e políticos, já que está inelegível no momento. Mesmo que recorra da decisão, sua situação pode gerar divisões dentro do União Brasil, especialmente com a possível candidatura presidencial do empresário Pablo Marçal (PRTB).

