O dia seguinte à megaoperação de combate ao crime organizado nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro (RJ), está sendo marcada por uma politização da crise na segurança pública pelos governos Cláudio Castro (PL) e Lula (PT). Os embates políticos indicam que haverá importantes obstáculos na construção do enfrentamento estrutural do problema na segurança.
Em manifestação realizada à imprensa, Cláudio Castro defendeu que a megaoperação foi um “sucesso”. Fez questão de ressaltar que os quatro policiais mortos no confronto com os criminosos também são vítimas. O governador voltou a reclamar da falta de apoio do governo federal, dizendo que espera contar com a integração e financiamento.
Na sequência, a o comandante da Polícia Militar, Marcelo de Menezes, explicou o planejamento da operação. O secretário estadual da Polícia Civil, Felipe Curi, em respostas às críticas, fez uma dura manifestação, inclusive recorrendo ao uso de vídeos gravados no momento da operação. Curi classificou a operação como “o maior baque da história do Comando Vermelho (CV)” e classificou as organizações criminosas como “narcoterroristas” – linguagem que agrada ao eleitorado conservador do Rio.
A atuação de Felipe Curi está movimentando os bastidores da política, levando seu nome a ser cotado como um possível candidato ao governo do RJ pelo PL. Outra opção eleitoral do PL é o comandante da Polícia Militar (PM), Coronel Marcelo de Menezes Nogueira. Vale recordar que, antes da megaoperação, o nome de Curi já surgia como possibilidade tanto ao governo estadual quanto à deputado federal, enquanto Menezes figurava como possível candidato ao posto de deputado estadual.
As entrevistas de Cláudio Castro e Felipe Curi ocorreram após parte significativa da imprensa dar amplo espaço para a cobertura dos corpos encontrados na Penha, os quais foram expostos em uma praça, ocupando espaço privilegiado nos principais veículos de comunicação.
A reação narrativa do governo federal ficou por conta do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski. Após uma reunião com demais ministros e o presidente Lula (PT), Lewandowski afirmou que Lula ficou “estarrecido” com o número de mortos no Rio. Por ora, de acordo com o ministro, a decretação de uma Garantia de Lei e da Ordem (GLO) não foi discutida.
Adotando um tom crítico, o ministro da Justiça afirmou que o caso do RJ foi uma “operação extremamente cruenta e violenta”. A informação nova revelada hoje é que a Polícia Federal (PF) disse ter sido informada sobre a operação no Rio, mas avaliou que a ação “não era razoável” para que a instituição participasse.
Nesta crise da segurança pública continua chamando atenção o fato de Lula e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), terem submergido. Embora estivesse em viagem internacional até ontem, Lula não emitiu nenhuma declaração pública, aumentando as cobranças sobre o presidente. A ausência de posicionamento de Lula reforça narrativas de que o governo federal busca preservar-se politicamente no episódio.
No entanto, como a segurança pública é um problema nacional, a postura de Lula é de considerável risco político, já que a repercussão da operação combinada com a disposição do governo Castro em seguir o combate às organizações criminosas, deve elevar as cobranças sobre o governo federal, sobretudo porque outros governadores estão dando respaldo político e técnico-operacional a Cláudio Castro.
O assunto também continua repercutindo no Congresso. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), determinou a instalação, na próxima terça-feira (4), da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado.

