30.5 C
Brasília

As repercussões políticas da operação policial mais letal da história do Rio

Operação gerou crise política e bloqueios afetaram transporte público

Data:

A megaoperação realizada pelo governo do Estado do Rio de Janeiro (RJ) contra o Comando Vermelho (CV), uma das maiores organizações criminosas do país, nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio, dominou o noticiário ontem (28) – algumas emissoras de televisão cancelaram a programação local para cobrir o episódio em tempo real. Até o momento, além de 81 prisões e a apreensão de 75 fuzis, há um saldo negativo de 128 mortos – sendo 4 policiais – tornando-a a mais letal da história do Estado. Obviamente que o episódio tem o potencial de provocar repercussões políticas importantes.

Apesar da operação alimentar a narrativa de setores da direita em favor de uma política “linha dura” na segurança pública, até então, o saldo é negativo para o governador Cláudio Castro (PL), que está sendo muito criticado pelos principais meios de comunicação.

Esta matéria foi publicada primeiro no Arko Alerta, exclusivo para clientes Arko Advice. Para saber como receber, CLIQUE AQUI.

Além da elevada letalidade, os bloqueios em vias arteriais realizados pelos criminosos, em represália à operação, impactaram negativamente a mobilidade urbana, especialmente no que diz a oferta de transporte público rodoviário, visto que as empresas de ônibus reduziram suas frotas com receio de depredações e apreensões indevidas. Como desdobramento, o aumento do fluxo em outros modais, que não possuem infraestrutura adequada para suportar a demanda inesperada, causou ainda mais apreensão na população.

A megaoperação, como tradicionalmente ocorre no Rio, está sendo novamente politizada. Em que pese a cobertura crítica da mídia e o desgaste gerado na imagem de Castro, existe uma demanda da população fluminense por operações que combatam mais firmemente o crime organizado, o que é reconhecido e absorvido na retórica política.

Num possível revés, a repercussão politizada da operação pode criar um fato para ser explorado por Cláudio Castro, que trabalha para construir um candidato à sua sucessão e viabilizar-se como candidato ao Senado. Ao menos no eleitorado bolsonarista, a operação deve ser bem recebida. O senador Flávio Bolsonaro (PL) e o deputado federal Altineu Côrtes (PL), que é presidente estadual do partido, sinalizaram, recentemente, que pretendem testar nomes ligados às Forças Armadas e às polícias Civil e Militar, ao cargo de governador nas eleições de 2026.

Importante registar que o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), principal nome de oposição a Castro, evitou criticar a megaoperação. Paes, que já havia criticado a ADPF das Favelas e criado um grupo de elite da Guarda Municipal, para armá-los, afirmou estar acompanhando as ações da polícia e que o Rio não pode e não vai ficar refém de criminosos que espalham medo pelas ruas da cidade.

A crise da segurança pública no Rio repercute no governo federal. Apesar de Castro ter afirmado que “o Rio está completamente sozinho”, o Ministério da Justiça rebateu dizendo que atendeu “prontamente” os pedidos para o emprego da Força Nacional no combate ao crime organizado.

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, em entrevista declarou que Cláudio Castro deve “assumir as suas responsabilidades”, ou admitir que não tem condições de controlar a segurança e pedir intervenção federal, estado de sítio ou a decretação de uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

Se, por um lado, o saldo da operação traz desgaste para Cláudio Castro, de outro, pode respingar no governo Lula, que precisará se posicionar nesta crise. Inicialmente, o gerenciamento da crise cabe a Castro. No entanto, Lula está sendo criticado pela suposta falta de ação na crise da segurança em grupos bolsonaristas no WhatsApp.

A base bolsonarista relembra a recente frase de Lula de que “usuários de drogas seriam vítimas dos traficantes”. A manifestação do presidente causou repercussão negativa na semana passada, o que levou o presidente a se corrigir posteriormente.

Assim, caso Cláudio Castro peça uma intervenção federal, a crise na segurança pública do Rio será compartilhada com o governo Lula, que passará a responder também por ela.

A crise da segurança pública no Rio – o terceiro maior colégio eleitoral do país –, ainda terá desdobramento, já que a pauta da segurança é o principal tema de preocupação dos eleitores nas pesquisas, repercutindo no Palácio do Planalto. Não por acaso, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que é o presidente da República em exercício, convocou uma reunião para debater o tema, ontem à noite, e uma equipe do governo federal já se encontra no RJ para a realização de uma reunião com o governador, cujo objetivo é buscar caminhos para se estabelecer uma política mais colaborativa.

Autor

Compartilhe

Inscreva-se

Receba as notícias do Política Brasileira no Whatsapp

Leia Mais
Relacionado

Crise na segurança pública do Rio muda a pauta do debate político nacional

Mortes e prisões marcam a ação que gera crise política e social

Análise: PLDO 2026 depende de aprovação de medidas compensatórias

A derrubada da MP nº 1.303/25 gerou no governo...

Câmara aprova proibição de cobrança por bagagens de mão em voos domésticos

Texto aumenta limite para bagagem de mão para até 23 kg e garante despacho gratuito em casos de impossibilidade na cabine

Senado dos EUA aprova resolução para anular tarifas de Trump contra o Brasil

Votação simbólica termina 52 a 48, mas medida pode ser barrada na Câmara dominada por republicanos