A megaoperação realizada pelo governo do Estado do Rio de Janeiro (RJ) contra o Comando Vermelho (CV), uma das maiores organizações criminosas do país, nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio, dominou o noticiário ontem (28) – algumas emissoras de televisão cancelaram a programação local para cobrir o episódio em tempo real. Até o momento, além de 81 prisões e a apreensão de 75 fuzis, há um saldo negativo de 128 mortos – sendo 4 policiais – tornando-a a mais letal da história do Estado. Obviamente que o episódio tem o potencial de provocar repercussões políticas importantes.
Apesar da operação alimentar a narrativa de setores da direita em favor de uma política “linha dura” na segurança pública, até então, o saldo é negativo para o governador Cláudio Castro (PL), que está sendo muito criticado pelos principais meios de comunicação.
Além da elevada letalidade, os bloqueios em vias arteriais realizados pelos criminosos, em represália à operação, impactaram negativamente a mobilidade urbana, especialmente no que diz a oferta de transporte público rodoviário, visto que as empresas de ônibus reduziram suas frotas com receio de depredações e apreensões indevidas. Como desdobramento, o aumento do fluxo em outros modais, que não possuem infraestrutura adequada para suportar a demanda inesperada, causou ainda mais apreensão na população.
A megaoperação, como tradicionalmente ocorre no Rio, está sendo novamente politizada. Em que pese a cobertura crítica da mídia e o desgaste gerado na imagem de Castro, existe uma demanda da população fluminense por operações que combatam mais firmemente o crime organizado, o que é reconhecido e absorvido na retórica política.
Num possível revés, a repercussão politizada da operação pode criar um fato para ser explorado por Cláudio Castro, que trabalha para construir um candidato à sua sucessão e viabilizar-se como candidato ao Senado. Ao menos no eleitorado bolsonarista, a operação deve ser bem recebida. O senador Flávio Bolsonaro (PL) e o deputado federal Altineu Côrtes (PL), que é presidente estadual do partido, sinalizaram, recentemente, que pretendem testar nomes ligados às Forças Armadas e às polícias Civil e Militar, ao cargo de governador nas eleições de 2026.
Importante registar que o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), principal nome de oposição a Castro, evitou criticar a megaoperação. Paes, que já havia criticado a ADPF das Favelas e criado um grupo de elite da Guarda Municipal, para armá-los, afirmou estar acompanhando as ações da polícia e que o Rio não pode e não vai ficar refém de criminosos que espalham medo pelas ruas da cidade.
A crise da segurança pública no Rio repercute no governo federal. Apesar de Castro ter afirmado que “o Rio está completamente sozinho”, o Ministério da Justiça rebateu dizendo que atendeu “prontamente” os pedidos para o emprego da Força Nacional no combate ao crime organizado.
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, em entrevista declarou que Cláudio Castro deve “assumir as suas responsabilidades”, ou admitir que não tem condições de controlar a segurança e pedir intervenção federal, estado de sítio ou a decretação de uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
Se, por um lado, o saldo da operação traz desgaste para Cláudio Castro, de outro, pode respingar no governo Lula, que precisará se posicionar nesta crise. Inicialmente, o gerenciamento da crise cabe a Castro. No entanto, Lula está sendo criticado pela suposta falta de ação na crise da segurança em grupos bolsonaristas no WhatsApp.
A base bolsonarista relembra a recente frase de Lula de que “usuários de drogas seriam vítimas dos traficantes”. A manifestação do presidente causou repercussão negativa na semana passada, o que levou o presidente a se corrigir posteriormente.
Assim, caso Cláudio Castro peça uma intervenção federal, a crise na segurança pública do Rio será compartilhada com o governo Lula, que passará a responder também por ela.
A crise da segurança pública no Rio – o terceiro maior colégio eleitoral do país –, ainda terá desdobramento, já que a pauta da segurança é o principal tema de preocupação dos eleitores nas pesquisas, repercutindo no Palácio do Planalto. Não por acaso, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que é o presidente da República em exercício, convocou uma reunião para debater o tema, ontem à noite, e uma equipe do governo federal já se encontra no RJ para a realização de uma reunião com o governador, cujo objetivo é buscar caminhos para se estabelecer uma política mais colaborativa.

