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Aprovação de Lula melhora, mas maioria desaprova o governo, aponta a Genial/Quaest

Cenário nacional segue adverso para o governo, com melhora regional e entre segmentos específicos

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A pesquisa Genial/Quaest divulgada na quarta-feira (16) mostra que o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil e o recente debate em torno da “justiça tributária” ajudaram o governo Lula (PT) a melhorar sua aprovação.

Em comparação com o levantamento realizado em maio, a desaprovação caiu quatro pontos percentuais enquanto a aprovação cresceu três pontos (ver tabela abaixo). Com isso, a distância da desaprovação para aprovação que de 17 pontos agora é de 10. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. No entanto, o saldo de popularidade permanece negativo para Lula em 10 pontos.

Na divisão por regiões, a desaprovação supera a aprovação no Sudeste (56% a 40%); no Sul (61% a 35%) e no Centro-Oeste/Norte (55% a 40%). A aprovação supera a aprovação somente no Nordeste (53% a 44%). Apesar da desaprovação em três das quatro regiões do país, a aprovação do governo cresceu oito pontos no Sudeste em relação a maio.

Nesse mesmo período, a desaprovação na maior região do país caiu 12 pontos. A aprovação de Lula também cresceu entre as mulheres, um dos segmentos que foi decisivo para sua vitória nas eleições de 2022. A aprovação aumentou quatro pontos enquanto a desaprovação caiu cinco pontos.

A desaprovação ao governo supera a aprovação em todas as faixas de renda: até 2 salários (49% a 46%); mais de 2 a 5 salários (52% a 43%); e mais de 5 salários (61% a 37%). Apesar desses números adversos, a notícia positiva para Lula é o fato da aprovação do governo ter crescido quatro pontos no segmento com mais de 2 a 5 salários – nesse público, a desaprovação, por outro lado, caiu seis pontos.

Entre quem recebe mais de 5 salários, a desaprovação caiu três pontos enquanto a aprovação aumentou quatro pontos. Lula também ganhou pontos entre os católicos. Agora, a maioria aprova seu governo (51% a 45%). Já a desaprovação entre os evangélicos permanece majoritária: 69% a 28%.

De acordo com a pesquisa, a aprovação de Lula concentra-se entre os eleitores que se dizem lulista/petista (89%) e mais à esquerda (82%). A desaprovação, por outro lado, é preponderante entre quem é bolsonarista (94%) e mais à direita (87%).

Entre os que não possuem posicionamento, 54% desaprovam o governo. 38% aprovam. No entanto, em relação a maio, a desaprovação nesse público estratégico caiu sete pontos percentuais enquanto a aprovação cresceu cinco pontos.

Quanto à avaliação do governo Lula, o saldo também permanece negativo para o presidente. Hoje, a avaliação negativa (ruim/péssimo) é 12 pontos percentuais maior que a avaliação positiva (ótimo/bom). No entanto, essa distância caiu em relação a maio, quando registrava 17 pontos.

Outro aspecto a ser observado é que foi interrompido o crescimento da avaliação negativa, assim como a queda da avaliação positiva. No entanto, ainda precisamos aguardar as próximas pesquisas para aferir se estamos diante de uma mudança no comportamento da opinião pública ou de uma variação conjuntural em função da repercussão negativa do tarifaço da Trump e da campanha em favor da justiça tributária.

Em relação ao tarifaço de Donald Trump, a Genial/Quaest aponta que:

  • 66% tomaram conhecimento da notícia. 33% não sabiam;
  • 79% acreditam que a elevação das tarifas sobre os produtos brasileiros irá prejudicar sua vida. 17% entendem que não;
  • 72% acham que Trump está errado ao impor taxas ao Brasil por acreditar que existe uma perseguição política contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL); 19% acreditam que Trump está correto;
  • 57% entendem que Trump não tem o direito de criticar o processo em que Bolsonaro é réu; 36% avaliam que sim;
  • 55% avaliam que Lula provocou Trump ao criticá-lo no encontro dos BRICS; 31% entendem que não;
  • 53% consideram que Lula está certo ao agir com reciprocidade às tarifas de Trump; 39% avaliam que não;
  • 44% entendem que Lula e o PT estão fazendo o certo nesse embate; 29% acreditam que Bolsonaro e seus aliados estão agindo corretamente;
  • 53% dizem que a carta de Trump não influencia o voto em favor de Lula ou Bolsonaro/candidato apoiado por ele; 19% dizem querer votar mais em Bolsonaro ou no candidato apoiado por ele, mesmo percentual que diz querer votar em Lula;
  • 84% defendem que governo e oposição devem unir-se na defesa do Brasil; 9% acreditam que não;

Com base nesses números do recorte da pesquisa sobre o tarifaço podemos concluir que a medida desgasta Trump e Bolsonaro. Lula, por sua vez, ganhou uma oportunidade de capitalizar o impacto negativo das tarifas, já que a maioria da opinião pública entende que o presidente está correto nesse episódio. No entanto, por ora, a carta de Trump não afeta o posicionamento da maioria do eleitorado em relação à sua preferência eleitoral.

Quanto à economia, a pesquisa mostra uma percepção de melhora. Mesmo que 46% dos entrevistados avaliem que a economia piorou nos últimos 12 meses, esse índice era de 56% em março. Por outro lado, o índice dos que apontam uma melhora na economia cresceu cinco pontos nesse período, chegando aos 21%.

Porém, 76% consideram que o preço dos alimentos nos mercados subiu no último mês. Embora esse índice tenha caído em relação a março, quando era de 88%, o percentual ainda é alto.

Além disso, 56% consideram que o preço dos combustíveis subiu, e 62% afirmam o mesmo em relação à conta de luz. Outro dado importante em relação à economia é que no entendimento de 80% dos entrevistados o poder de compra está menor na comparação com o ano passado.

Esses números criam uma sensação térmica da economia adversa ao governo. Assim, mesmo que tenha reduzido a percepção de que a economia piorou nos últimos meses, a inflação de alimentos, combustíveis e energia prejudica o governo.

Quanto aos recentes embates entre o Executivo e o Legislativo em torno da derrubada do decreto que aumentava o IOF observamos que o episódio teve um impacto na opinião pública inferior ao barulho gerado pelos meios de comunicação e no mundo político.

Segundo a Quaest, 51% dos entrevistados tomaram conhecimento do episódio. 48% não. Para 79%, o conflito entre os poderes atrapalha o país. 56% disseram que não ficaram sabendo que agenda em favor da “justiça tributária” do governo. 43% disseram que sim. Impulsionada pela esquerda, a campanha contra o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), não foi vista por 72% dos entrevistados. 25% responderam que sim.

Em relação aos gastos públicos, 41% disseram que a meta fiscal deve ser cumprida através do corte de gastos. 40% consideram que a meta fiscal deve ser cumprida através do aumento da arrecadação. Para 63%, o governo deve aumentar impostos dos mais ricos e diminuir dos mais pobres. 75% defendem a elevação da faixa de isenção do imposto de renda (IR). Além disso, 60% são favoráveis ao aumento do IR para os chamados “super ricos”.

Quanto à campanha “ricos e pobres”, 53% consideram que o discurso não está correto porque aumenta as brigas e a polarização do país. 38% acham a campanha correta porque chama atenção para os privilégios de alguns grupos. Em relação a agenda do governo, 59% não se consideram representados. 34% dizem que sim.

Apesar de medidas como a isenção do IR para quem recebe até R$ 5 mil e o debate em torno da taxação dos “super ricos” ter o apoio da maioria dos entrevistados, a campanha governista em favor da “justiça tributária” enfrenta limites. Além da maioria não se sentir representada pela agenda do governo, o mote “ricos x pobres” é mais desaprovado que aprovado, assim como o conflito entre os poderes.

A pesquisa Genial/Quaest, embora tenha mostrado uma melhora na aprovação do governo, deve ser comemorada com prudência pelo Palácio do Planalto. Mesmo que o tarifaço e o debate em torno do aumento da isenção do IR para mais faixas de renda crie uma oportunidade política para Lula, desgastando seu principal antagonista, Jair Bolsonaro, e aguçando divisões na direita, somente esse fato pode ser insuficiente para o presidente reverter o saldo negativo de popularidade na opinião pública.

Por ora, conforme mostram os números, a percepção da economia segue negativa. Além disso, a campanha “ricos x pobres”, apesar de ter animado a militância de esquerda, não é bem-vista pela maioria dos brasileiros. Embora Lula tenha ganhado uma narrativa, o governo terá o desafio de apresentar resultados, sobretudo no tema do tarifaço, que poderá prejudicar a economia brasileira.

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