A movimentação dentro dos partidos políticos tendo em vista um reposicionamento político-eleitoral para as eleições gerais do próximo ano começam a se intensificar. De olho em protagonismo ou mesmo em sobrevivência pós-eleição, várias legendas estudam possibilidades que envolvem fusões e federações partidárias.
Com critérios de desempenho mais severos, a cláusula de barreira a ser aplicada no pleito de 2026 ameaça a existência dos partidos menores. Para participar do rateio do fundo partidário e ter acesso a tempo gratuito de rádio e TV, os partidos terão de obter 2,5% do total nacional de votos do pleito para a Câmara federal (quase 3 milhões de votos em números de 2022) ou eleger 13 deputados, ambos distribuídos por nove estados. Dessa forma, não há outra saída para os nanicos que não a união com outras siglas, via fusão, via incorporação ou via federação.
Fusão, incorporação ou federação?
Há diferenças entre esses modelos. No processo de fusão, dois ou mais partidos se unem para dar origem a uma nova legenda. Na incorporação, um partido maior absorve outro(s) menor(es), mantendo a identidade do primeiro. Esses dois tipos de união são permanentes. Já a federação promove uma aliança política e eleitoral temporária de, no mínimo, quatro anos.
Nas eleições proporcionais (deputados federais e estaduais), os votos recebidos pelas siglas coligadas são contabilizados conjuntamente para fins de apuração do quociente partidário e a definição dos candidatos eleitos. Os integrantes de uma federação devem atuar unidos no Parlamento pelo período em que a junção estiver ativa, com personalidade de agremiação única. Contudo, as siglas preservam as próprias identidades e mantêm cotas separadas dos fundos partidário e eleitoral.
Em 2022, eleição em que tal instituto estreou no cenário político nacional, foram criadas três federações. Contudo, atualmente, todas passam por um processo de redefinição para o próximo pleito. A federação PSDB-Cidadania decidiu dissolver a aliança em 2026 para que cada legenda busque novos caminhos. O PT avalia reformular ou descontinuar a federação Brasil da Esperança, formada com PCdoB e PV. Da mesma forma, PSOL e Rede estudam rever a parceria.
Entre esses partidos, apenas o PSDB tem uma definição mais clara de futuro. Está bem encaminhada uma fusão com o Podemos, que pode ser concluída em breve. Já o Cidadania, parceiro atual dos tucanos, vem conversando com o PSB com vistas a uma nova federação.
A primeira novidade para a eleição de 2026 foi apresentada recentemente, com a formação da federação União Progressista, junção do União Brasil (UB) com o Progressistas (PP). A nova agremiação surge como a mais robusta força política no campo da centro-direita, com expressiva representatividade nos governos estaduais e municipais, bem como nos três níveis do Poder Legislativo.
A criação do novo agrupamento estimula outras movimentações dentro desse espectro político. MDB e Republicanos, por exemplo, iniciaram conversas. O diálogo deve se aprofundar nas próximas semanas para buscar conciliar os interesses regionais de cada legenda, tarefa complexa que exige muita negociação entre as cúpulas partidárias.
O Solidariedade e o PRD caminham para se federalizarem. O segundo já vem de um processo de fusão recente, que uniu o Patriota ao PTB. Juntas, as duas siglas reúnem hoje dez deputados federais, número mínimo inferior ao que exigirá a cláusula de barreira na próxima eleição. Portanto, legendas desse porte tendem a buscar mais parceiros para ampliar as condições de superação dos requisitos.
É previsível que nos próximos meses surjam diversas articulações entre partidos, especialmente entre os que se encontram mais ameaçados. Observe-se ainda que tais movimentos devem provocar ondas de migração partidária. Filiados que tenham suas condições de elegibilidade afetadas por essas reconfigurações vão buscar reacomodação em outras legendas. Da mesma maneira, os partidos repaginados serão destino de outros quadros, que buscarão novos ares e novas oportunidades.