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Mudanças climáticas impactam o agronegócio e desafiam produtores

Investimentos em tecnologia e sustentabilidade são cruciais para manter a produtividade

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As mudanças climáticas são um cenário cada vez mais presente no mundo, e os agricultores precisam se manter atualizados e preparados para lidar com essas questões. Em cada região do Brasil há um desafio diferente.

No Nordeste, a crescente escassez de água e a intensificação de períodos de seca comprometem a produção de culturas como a cana-de-açúcar e o feijão. O Semiárido Nordestino já é responsável por 10% da produção nacional de feijão, mas as mudanças climáticas têm acelerado a desertificação da região. A temperatura média no local aumentou 1,5°C nas últimas três décadas, e a expectativa é de que a escassez de água afete mais de 60% da área irrigada até 2050, aumentando a dependência de sistemas de irrigação caros e com menor eficiência.

No Sudeste a irrigação é mais comum, entretanto, o aumento da frequência de eventos climáticos extremos no estado de São Paulo, maior produtor de cana-de-açúcar do país, tem provocado perdas significativas. Em 2020, o estado enfrentou uma seca histórica, com uma redução de 25% dessa produção, gerando uma perda de mais de R$ 5 bilhões no setor. Enquanto isso, os produtores de café no sul de Minas Gerais têm tido de enfrentar a alteração nos padrões de chuva, o que afeta a produtividade. O estado é responsável por 70% da produção nacional de café e já enfrenta uma queda de 5% na produtividade devido ao aumento das temperaturas.

A soja, que representa 70% das exportações agrícolas do país, registrou uma redução de 10% na produtividade média na Região Sul nos últimos dez anos, devido à maior variabilidade climática. As projeções indicam que, até 2050, a redução de chuva e o aumento da temperatura podem diminuir a produtividade da soja em até 20%. Ainda no Sul, as altas temperaturas podem reduzir em 13% a produção de milho até 2030.

E, por fim, o Centro-Oeste, uma das regiões mais importantes para o agronegócio brasileiro, já vivencia uma diminuição de suas áreas agricultáveis, com aproximadamente 28% delas deixando de estar no padrão climático ideal para o cultivo, conforme estudo publicado na revista Nature Climate Change. Caso não sejam adotadas medidas sustentáveis, essa taxa pode chegar a 50%, até 2030, e até 74%, em 2060. A irregularidade das chuvas e o aumento das temperaturas têm alterado os ciclos produtivos, impactando a produtividade e a qualidade das colheitas. Tais mudanças podem exigir adaptações nos sistemas de irrigação e manejo do solo, além de investimentos em tecnologias que permitam minimizar os efeitos climáticos adversos e garantir a sustentabilidade da produção na região.

Dificuldades climáticas

A vulnerabilidade da produção agrícola, para ser superada, depende da capacidade de adaptação dos produtores, do acesso a tecnologias e de disponibilidade financeira para que se implementem soluções sustentáveis. Como explica o pesquisador Giampaolo Pellegrino, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na área de Mudanças Climáticas Globais: “Culturas como soja, milho e café, que exigem condições climáticas mais estáveis, são especialmente afetadas, enquanto culturas como cana-de-açúcar e mandioca, mais resilientes, enfrentam menores impactos. No entanto, eventos climáticos extremos, como enchentes e ondas de calor, podem atrasar os ciclos de colheita e dificultar a safra subsequente, comprometendo a estabilidade da produção agrícola em todo o país.”

De acordo com Pellegrino, o aumento da temperatura, combinado com a escassez hídrica, é o principal desafio enfrentado pelo setor. “A planta precisa de mais água para o seu desenvolvimento, e a falta desse recurso compromete seus processos fisiológicos, causando perdas significativas na produção”, explica. Mudanças como secas prolongadas, chuvas extremas e temperaturas elevadas afetam diretamente o solo, o desenvolvimento das safras e a colheita, reduzindo a produtividade e colocando em risco a segurança alimentar.

Nesse cenário, produtores têm adotado estratégias para minimizar os impactos das mudanças climáticas. Entre as soluções, destacam-se o uso de sementes geneticamente modificadas, conhecidas como OGMs, que são Organismos Geneticamente Modificados a partir da técnica da transgenia. Essa alteração no seu DNA permite que mostrem uma característica que não tinham antes. No Brasil, foram plantados 40,3 milhões de hectares com sementes de soja, milho e algodão transgênicos em 2013, com um crescimento de 10% em relação ao ano anterior. Hoje, entre as culturas desenvolvidas no país com biotecnologia, 92% da soja, 90% do milho e 47% do algodão são geneticamente modificados.

Sustentabilidade

A modernização da agricultura exige investimentos na adoção de práticas sustentáveis, como a rotação de culturas e a incorporação de matéria orgânica no solo, o que pode aumentar os custos iniciais para os produtores. A necessidade de novos maquinários, como plantadeiras adaptadas e trituradores, e o uso de tecnologias avançadas, como sensores de umidade e drones, elevam os gastos. A pesquisa para identificar as melhores combinações de culturas e a capacitação da mão de obra também representa desafios financeiros. Essas técnicas melhoram a fertilidade do solo, reduzem a dependência de fertilizantes químicos, minimizam a necessidade de irrigação e favorecem o controle natural de pragas e doenças. Apesar do investimento inicial elevado, os ganhos a longo prazo garantem maior eficiência produtiva e resiliência diante das mudanças climáticas.

Outras técnicas são a criação de microclimas e o zoneamento de riscos climáticos, que também envolvem custos iniciais, como o investimento em infraestrutura para o plantio de árvores, a instalação de barreiras vegetais e a aplicação de cobertura morta, além da compra de tecnologias para monitoramento, como sensores e softwares de análise ambiental. A capacitação da mão de obra é igualmente necessária para o manejo adequado dessas práticas. Por outro lado, essas modernizações, que incluem o uso de tecnologias avançadas e o manejo sustentável, promovem uma agricultura mais eficiente, com menor dependência de insumos externos e maior resiliência às mudanças climáticas. Como já dito, embora os custos iniciais sejam altos, os benefícios a longo prazo, como a adaptação ao clima e a redução de perdas, justificam o investimento.

Autor

  • Graduada em Jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB). Vencedora do 16º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, do Instituto Vladimir Herzog. Foi estagiária da Rádio Senado. *Estagiária sob a supervisão da reportagem.

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