O último pedido do papa Francisco, falecido no último dia 21, está prestes a se tornar realidade: seu papamóvel será transformado em uma unidade móvel de saúde para prestar atendimento médico a crianças na Faixa de Gaza, região devastada pelo conflito com Israel.
A iniciativa foi anunciada pelo Vaticano como um legado de amor e solidariedade do 266º papa da Igreja Católica, o primeiro das Américas, que dedicou os últimos anos de seu pontificado à defesa dos mais vulneráveis — especialmente das crianças palestinas afetadas pela guerra.
Um gesto final de compaixão
O veículo, um Mitsubishi adaptado, foi originalmente doado em 2014 pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, para a visita do papa à Cisjordânia, outra das duas regiões da atual Palestina. Agora, será adaptado com equipamentos de diagnóstico, tratamento e vacinação, incluindo testes rápidos para infecções, kits de sutura, medicamentos e insumos emergenciais.
De acordo com o Vaticano, o projeto foi confiado à Caritas Jerusalém, braço humanitário da Igreja Católica na região, que atuará com médicos e paramédicos locais, com o apoio da Caritas Suécia. A clínica móvel entrará em operação assim que o acesso humanitário à Faixa de Gaza for restabelecido.
“Este veículo representa o amor, o cuidado e a proximidade demonstrados por Sua Santidade para com os mais vulneráveis, que ele expressou durante toda a crise”, afirmou Anton Asfar, secretário-geral da Caritas Jerusalém.
Esperança para as crianças em meio ao colapso
A iniciativa surge num momento crítico: segundo o Vaticano, 15 mil crianças morreram em Gaza desde outubro de 2023, em meio a bombardeios, fome, doenças e colapso quase total do sistema de saúde. Sem hospitais funcionais, milhares de crianças feridas e desnutridas estão sem acesso a cuidados médicos básicos.
“Com o veículo, poderemos alcançar crianças que hoje não têm acesso a cuidados de saúde. Não se trata apenas de um veículo. É uma mensagem de que o mundo não se esqueceu das crianças de Gaza”, declarou Peter Brune, secretário-geral da Caritas Suécia.
Durante seus últimos meses de vida, papa Francisco mantinha contato diário com a paróquia católica palestina em Gaza, fazendo ligações todas as noites para verificar se os fiéis ainda estavam vivos — muitas vezes por apenas 30 segundos, tempo suficiente para levar uma palavra de esperança.
“Crianças não são números. São rostos. Nomes. Histórias. E cada uma delas é sagrada”, dizia Francisco, em uma de suas frases mais marcantes, agora transformada em ação concreta com a criação da clínica móvel.