Seis caminhões com suplementos nutricionais e leite infantil cruzaram para a Faixa de Gaza nesta semana, marcando o primeiro carregamento de ajuda humanitária desde o início do bloqueio total em 2 de março. A entrada foi confirmada à Agence France-Presse (AFP) por empresas palestinas envolvidas no transporte, e ocorre após fortes pressões internacionais e alertas sobre o risco iminente de fome em massa no território palestino.
Apesar da liberação inicial, o volume ainda está longe de atender às necessidades dos mais de 2 milhões de habitantes de Gaza. De acordo com a ONU, Israel autorizou nesta segunda-feira (19) a entrada de “quase 100” caminhões com ajuda. Jens Laerke, porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), confirmou que mais caminhões estão sendo autorizados: “Recebemos aprovação de mais veículos hoje, muitos mais do que ontem”.
A Faixa de Gaza é um dos dois territórios restantes da Palestina, juntamente com a Cisjordânia. Israel controla todos os acessos do povo palestino às regiões, frequentemente culminando em violência.
“Gota no oceano”, diz ONU
O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Tom Fletcher, afirmou que a entrada dos primeiros caminhões representa apenas “uma gota no oceano” diante da grave crise humanitária vivida na Faixa de Gaza. O diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, também denunciou a situação:
“Há dois milhões de pessoas morrendo de fome em Gaza, apesar das toneladas de comida bloqueadas na fronteira”, disse.
A entrada da ajuda acontece após semanas de críticas internacionais, inclusive do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que demonstrou incômodo com as imagens de fome circulando pelo mundo. O próprio primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reconheceu que “os amigos de Israel” não tolerariam imagens de fome em massa, justificando a liberação “por razões diplomáticas”.
Ofensiva militar israelense mata dezenas, inclusive crianças
Apesar da liberação parcial da ajuda, os bombardeios israelenses continuam com intensidade. Entre a madrugada e a manhã desta terça-feira (20), ao menos 44 palestinos morreram, a maioria crianças e mulheres, de acordo com Mahmud Bassal, porta-voz da Defesa Civil de Gaza.
Principais ataques registrados:
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8 mortos em uma escola que abrigava deslocados, na Cidade de Gaza;
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12 mortos em um bombardeio contra uma casa em Deir el Balah;
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15 mortos em um posto de gasolina no campo de Nuseirat;
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9 mortos em um edifício no campo de Jabaliya.
O Exército israelense não comentou os ataques, que ocorreram poucas horas após a promessa de Netanyahu de “tomar o controle de toda a Faixa de Gaza”. O governo israelense convocou milhares de reservistas, e aprovou a ampliação das operações militares no território. No fim de semana, anunciou nova fase da ofensiva, com o objetivo declarado de “derrotar o Hamas”.
O primeiro-ministro do Catar, Mohammed ben Abderrahman Al Thani, um dos mediadores do conflito, declarou nesta terça-feira que os novos ataques “comprometem qualquer possibilidade de paz”.