A morte do Papa Francisco nesta segunda-feira (21) deu início a um dos mais importantes rituais da Igreja Católica: o conclave, cerimônia tradicional que define o novo pontífice. Com a expressão em latim cum clave – que significa “fechado à chave” –, o conclave é realizado na Capela Sistina, no Vaticano, e envolve votos secretos, rituais centenários e um momento simbólico: a fumaça branca anunciando ao mundo a eleição do novo papa.
Como funciona o conclave
Logo após o velório e o sepultamento do Papa Francisco, inicia-se o período de luto de nove dias, chamado de novendiali. Durante esse tempo, o Colégio Cardinalício, composto atualmente por 252 cardeais, é convocado ao Vaticano. Os cardeais se hospedam na Casa Santa Marta, onde também viveu Francisco, que recusou o tradicional e luxuoso Palácio Apostólico.
Antes da votação propriamente dita, ocorrem reuniões gerais (congregações) onde são debatidos os desafios da Igreja e do mundo atual. A partir dessas discussões, começam a se delinear os nomes com perfil adequado para assumir o papado.
Somente cardeais com menos de 80 anos têm direito a voto. Apesar do número máximo teórico ser 120, atualmente há 135 eleitores — e o Papa pode, em casos excepcionais, ampliar esse número.
No dia do conclave, após missa presidida pelo decano do Colégio Cardinalício, os cardeais seguem em procissão até a Capela Sistina. Lá, os votos são feitos em sigilo total, sem uso de aparelhos eletrônicos ou contato com o mundo externo. As votações acontecem até quatro vezes ao dia, sendo duas pela manhã e duas à tarde, até que um candidato obtenha pelo menos dois terços dos votos.
Se ninguém atinge essa maioria, as cédulas são queimadas com substâncias que produzem uma fumaça preta, saindo pela chaminé da Capela Sistina.
Quando há um eleito, a fumaça é branca. Em seguida, o novo papa é anunciado com a frase Habemus Papam – “temos um Papa” – e aparece na sacada da Basílica de São Pedro para dar sua primeira bênção.
Brasil no conclave
O Brasil tem oito cardeais no Colégio Cardinalício. Destes, sete têm direito a voto:
- Dom João Braz de Aviz, 77 anos, arcebispo emérito de Brasília
- Dom Odilo Scherer, 75 anos, arcebispo de São Paulo
- Dom Leonardo Ulrich Steiner, 74 anos, arcebispo de Manaus
- Dom Orani Tempesta, 74 anos, arcebispo do Rio de Janeiro
- Dom Sérgio da Rocha, 65 anos, arcebispo de Salvador
- Dom Jaime Spengler, 64 anos, arcebispo de Porto Alegre e presidente da CNBB
- Dom Paulo Cezar Costa, 57 anos, arcebispo de Brasília
O único cardeal brasileiro fora do processo de votação é Dom Raymundo Damasceno Assis, de 87 anos. Ele participou do conclave que elegeu Francisco em 2013 e agora atua como referência espiritual. Em coletiva de imprensa, ele reforçou o caráter espiritual da escolha, destacando que o conclave não é um processo político: “É uma obra de Deus, uma ação do Espírito Santo”.
Um colégio voltado às periferias
O atual carmelengo – responsável por conduzir o Vaticano durante a Sé Vacante, que é quando a Igreja está sem papa – é o irlandês Kevin Farrell, nomeado por Francisco. Ele também foi quem anunciou oficialmente a morte do pontífice.
O Colégio Cardinalício que elegerá o novo papa mostra o crescimento da diversidade geográfica, antes ainda mais dominada por europeus:
- Europa: 114 cardeais, sendo 53 votantes
- Ásia: 37 cardeais, sendo 23 votantes
- África: 29 cardeais, sendo 18 votantes
- América do Sul: 32 cardeais, sendo 17 votantes
- América do Norte: 28 cardeais, sendo 16 votantes
- América Central: 8 cardeais, sendo 4 votantes
- Oceania: 4 cardeais, sendo que os 4 são votantes
O atual favorito para suceder Francisco, de acordo com projeções, é o cardeal filipino Luis Antonio Tagle, conhecido como “Francisco asiático” por seu alinhamento à visão de inclusão do hoje falecido papa.
Sempre em busca de manter a Itália com um Papa, o nome de Pietro Parolin também é cotado. O nome do italiano aparece como forte candidato por sua experiência diplomática no Vaticano.