O G20 iniciou nesta quinta-feira (17), em Durban, na África do Sul, uma rodada de discussões marcada pela crescente pressão das barreiras tarifárias dos Estados Unidos, e por preocupações com a eficácia do grupo diante dos atuais desafios globais.
No discurso de abertura, o ministro das Finanças sul-africano, Enoch Godongwana, enfatizou a necessidade de liderança estratégica e cooperação global, destacando problemas como o alto endividamento e o elevado custo de capital em países africanos, fatores que limitam a capacidade de investimento e desenvolvimento nas economias emergentes.
“Muitos países em desenvolvimento, especialmente na África, continuam sobrecarregados pelas vulnerabilidades de dívidas altas e crescentes, espaço fiscal restrito e alto custo de capital que limita sua capacidade de investir em seu povo e em seu futuro”, pontuou Godongwana.
No centro do debate está o apelo por uma postura cooperativa dos maiores países desenvolvidos, especialmente num momento em que políticas protecionistas, como as tarifas anunciadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, têm ameaçado as bases do comércio internacional. Godongwana defendeu que o G20 desempenhe papel de vanguarda para enfrentar tais desafios, promovendo uma agenda que combine solidariedade, igualdade e sustentabilidade, lema da presidência sul-africana do grupo nesta edição.
“A necessidade de uma liderança cooperativa ousada nunca foi tão grande”, completou.
Ausências marcam encontro
O G20 foi concebido como um fórum para a cooperação econômica global e coordenação de políticas, desempenhando papel central na superação da crise financeira de 2008. Contudo, desde então, o grupo tem enfrentado dificuldade para consolidar consensos duradouros, sobretudo em temas como a guerra da Rússia na Ucrânia e sanções ao governo de Moscou. A atual cúpula reflete essa fragmentação, marcada por ausências de alto nível: o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, não compareceu, repetindo ausência ocorrida em fevereiro, assim como ministros de Índia, França e Rússia.
Diplomatas ressaltam que, embora todos os países estejam representados, a falta de lideranças-chave limita a capacidade do fórum de tomar decisões robustas e de impacto.
A presidência norte-americana, prevista para o fim do ano, já sinalizou intenção de enxugar os grupos de trabalho não prioritários e simplificar a agenda da próxima cúpula, numa tentativa de ganhar eficiência.
Tarifas de Trump tensionam cenário global
As ameaças tarifárias vindas dos EUA dominaram o clima do encontro. Trump instituiu uma tarifa-base de 10% sobre todas as importações, taxas de até 50% sobre aço e alumínio, 25% em automóveis e acenou com novos encargos para farmacêuticos, com ameaça de elevar as taxas contra países do BRICS, aumentando o temor de uma guerra comercial de larga escala.
O Brasil, a China e outros países têm alertado para o risco de o movimento acentuar uma fragmentação internacional e enfraquecer as bases da Organização Mundial do Comércio (OMC), ameaçando os próprios mecanismos de cooperação econômica desenvolvidos nas últimas décadas.
Por causa dessas disputas, desde julho de 2024 o G20 não consegue emitir comunicados finais que mencionem de forma aberta temas sensíveis como a guerra na Ucrânia, optando por focar em consensos mínimos, como o combate ao protecionismo — mas sem ações ou compromissos vinculativos.
Agenda africana cobra protagonismo
Além das tensões comerciais e geopolíticas, a África do Sul usa a presidência do G20 para destacar o alto custo do capital enfrentado por países africanos e a urgência de aportes para o combate às mudanças climáticas. O país defende que o grupo assuma compromissos para facilitar o financiamento do desenvolvimento e de infraestrutura no continente africano.

