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Indústria envia representantes aos EUA para tentar negociar tarifaço

CNI vai participar de audiência em investigação sobre Pix e supostas práticas desleais

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Uma comitiva com cerca de 130 representantes da indústria brasileira desembarca em Washington, nos Estados Unidos, nesta quarta-feira (3). Os empresários visam reverter ou reduzir as taxas de importação adicionais impostas pelo governo norte-americano a produtos brasileiros. A missão do setor privado é liderada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

A agenda da delegação inclui reuniões com empresários e parlamentares dos EUA, encontros com instituições parceiras e uma plenária com representantes dos setores público e privado de ambos os países. Também está previsto um encontro com a embaixadora do Brasil nos EUA, Maria Luiza Ribeiro Viotti.

“Nosso propósito com esta missão é aprofundar o diálogo e contribuir para as negociações, por meio de argumentos técnicos que demonstrem a relevância e as vantagens mútuas dessa parceria para os dois países. As economias brasileira e americana são complementares”, destacou o presidente da CNI, Ricardo Alban.

Entre os setores representados na missão estão alguns dos mais afetados pelas novas tarifas, como máquinas e equipamentos (Abimaq), madeira (Abimci), café (Cecafé) e cerâmica (Anfacer). A comitiva também inclui associações dos segmentos de alumínio (Abal), carnes (Abiec), brinquedos (Abrinq), ferramentas (ABFA), rochas (CentroRochas) e couro (CICB). Empresas como Tupy, Embraer, Stefanini, Novelis e Siemens Energy participam, além de dirigentes de oito federações estaduais da indústria (GO, MG, PB, PR, RJ, RN, SC e SP).

Indústria se pronuncia em investigação

Um dos pontos centrais da agenda é a participação da CNI na audiência pública que faz parte da investigação de práticas “relacionadas ao comércio digital e serviços de pagamento eletrônico”. A indústria será representada pelo diplomata Roberto Azevêdo, o ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC).

O processo contra o Brasil foi aberto pelo Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974, que investiga se políticas de outros países são restritivas ao comércio norte-americano.

Segundo os EUA, estão sob investigação “tarifas injustas e preferenciais; interferência em políticas anticorrupção; proteção da propriedade intelectual; acesso ao mercado de etanol; e desmatamento ilegal”. O texto cita como motivações também o Pix e a venda de produtos falsificados na 25 de Março, em São Paulo.

Em seu posicionamento técnico, a CNI argumenta que o país não aplica práticas desleais. Diz também que não há base jurídica ou factual para a imposição das tarifas. A entidade defende que as preocupações norte-americanas sejam resolvidas por meio de diálogo e cooperação técnica.

A postura de negociar e evitar um confronto direto é majoritária entre o setor produtivo. Um levantamento da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) com 162 companhias mostra que 88% defendem a via diplomática, enquanto apenas 10% apoiam uma retaliação imediata. Para 86% dos entrevistados, medidas de reciprocidade poderiam agravar as tensões e reduzir o espaço para o diálogo.

Impacto nas exportações

O setor empresarial manifesta preocupação com o impacto das tarifas norte-americanas. Segundo a pesquisa da Amcham, 59% das empresas exportadoras preveem queda acentuada ou interrupção total das vendas aos EUA caso a sobretaxa entre em vigor. A indústria é o setor mais afetado (53%), seguido por serviços (17%), agroindústria (12%) e energia e infraestrutura (9%).

As preocupações se estendem para além das perdas comerciais diretas. As companhias temem o prejuízo à imagem do Brasil como destino de investimentos. Também pode haver aumento da insegurança jurídica e os riscos para cadeias produtivas que dependem de insumos e tecnologias dos Estados Unidos.

Para o presidente da Amcham Brasil, Abrão Neto, os dados deixam claros os potenciais impactos negativos sobre os negócios, desde a interrupção de exportações até a revisão de investimentos. Ele defendeu o aprofundamento dos esforços para preservar os ganhos da relação bilateral.

Autor

  • Jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Coordenador de jornalismo na Arko Advice, contribui para o Política Brasileira com bastidores da política nacional. Tem passagem como repórter pelo Correio Braziliense, Rádio CBN e Brasil61.com. Mestrando em Ciência Política.

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