A recuperação da aprovação do presidente Lula (PT) nas pesquisas, faltando cerca de um ano para as eleições de 2026, combinado com sua liderança nos cenários estimulados de intenção de voto, produz a seguinte narrativa na opinião pública: Lula seria o favoritismo, estando próximo de conquistar o quarto mandato. Será?
Ao participar recentemente do debate do “O Globo”, intitulado “Eleições 2026: como será a corrida presidencial”, o marqueteiro João Santana fez uma análise muito apropriada sobre o momento atual da sucessão.
Para João Santana, a recuperação experimentada por Lula em 2005, quando o presidente havia sido atingido pelo escândalo do mensalão e mesmo assim foi reeleito em 2006, é distinta do cenário atual.
Segundo João, em 2005, como consequência do mensalão, existia um enfraquecimento moral e não administrativo do governo. O marqueteiro lembrou que, naquele momento, o governo Lula 1 tinha uma capacidade de entrega boa. Além disso, a saída daquela crise foi endógena, ou seja, veio de dentro do governo para fora.
Em 2025, a recuperação da imagem de Lula tem como origem fatores externos (exógenos): o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil e a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) contra o governo Lula. Nas palavras de João Santana, “Eduardo deu a faca, Trump o queijo e a Câmara a goiabada – referência à aprovação da PEC da Blindagem” – de presente para Lula.
A recuperação da popularidade de hoje, de acordo com João Santana, está ocorrendo do ponto de vista simbólico, mas não material. Essa recuperação simbólica poderá ser efêmera, pois ocorre de fora para dentro do governo.
Apesar do simbólico estar ajudando Lula, é importante observar que a maioria dos brasileiros continua avaliando, de acordo com a pesquisa Quaest, que o país está no rumo errado; que a economia piorou; entende que Lula não deve disputar a reeleição, e não merece um novo mandato.
Também presente no debate do “O Globo”, o CEO do instituto Quaest, Felipe Nunes, ressaltou outro aspecto importante: não existe mais a gratidão automática dos eleitores a Lula por conta dos programas sociais, já que os entrevistados enxergam que os programas sociais passaram a ser vistos como um direito. Como consequência, o governo terá maiores dificuldades de, a partir das entregas na área social, convertê-las em votos.
Não bastasse o fato de a inclusão social não produzir a emoção do passado, temas como a defesa da soberania e da democracia também estão mais no terreno da simbologia que dá concretude.
Outro desafio para o governo é como sobrepor como propostas novas – a isenção do imposto de renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil; os descontos na conta de luz para famílias de baixa renda e a distribuição de botijões de gás de cozinha para famílias de baixa renda – as promessas não cumpridas. Além disso, até o momento, o governo Lula 3 limita-se a reedição do desenvolvimentismo dos governos Lula 1 e 2, sem apresentar uma agenda de futuro.
A isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil tem um potencial eleitoral relevante. No entanto, hoje, significa mais uma ideia na cabeça das pessoas do que algo que produza efeito concreto.
Apesar dos desafios que enfrenta, Lula parece ter o diagnóstico político correto. Desde que o publicitário Sidônio Palmeira assumiu o comando da comunicação, o presidente está menos refém da rotina do Palácio, mais próximo das camadas populares, que é sua base eleitoral, e conversando mais com a classe média.
Também favorece Lula a ausência de oposição. Desde a prisão domiciliar e a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a direita perdeu sua capacidade de mobilização nas ruas e redes sociais. Está mais fragmentada, enfrenta divergências internas importantes e ainda não dispõe de um projeto de país para além da agenda bolsonarista. Quando a (s) alternativa (s) da oposição estiveram definidas e em campanha, qual será o impacto disso na eleição? Essa é uma questão que ainda está em aberto.
Se, há seis meses, era precoce considerar Lula fora do jogo. Agora, é igualmente precoce considerá-lo favorito para 2026. Lula está em vantagem, mas terá uma eleição difícil pela frente, marcada pelo imponderável. Basta observar que a aprovação do governo captada pelas pesquisas é muito similar à desaprovação, o que indica que novamente teremos um pleito muito equilibrado e decidido por uma estreita margem de votos.

