A audiência da Comissão de Infraestrutura do Senado desta terça-feira (27) expôs o uso eleitoral do embate ambiental por senadores da região Norte. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), foi alvo de ataques considerados machistas e ofensivos, especialmente vindo dos senadores Plínio Valério (PSDB-AM) e Marcos Rogério (PL-RO), em uma sessão marcada por tumulto e gritaria. O episódio, que culminou com a saída da ministra da reunião, é uma tentativa explícita de senadores da Amazônia de transformar o debate ambiental em palanque para as eleições de 2026.
O palco do confronto
Marina Silva compareceu ao Senado para discutir a criação de unidades de conservação marinha na Margem Equatorial, região estratégica para a exploração de petróleo. O tema, de interesse direto dos estados amazônicos, foi usado como combustível para críticas agressivas. Plínio Valério ao começar sua fala na sessão: “A mulher merece respeito, a ministra não”, ao qual recebeu em seguida uma cobrança de pedido de desculpas por parte da ministra. O senador havia dito em março que gostaria de “enforcar” Marina.
Marcos Rogério, presidente da comissão, cortou o microfone da ministra diversas vezes e ordenou: “Se ponha no seu lugar”, frase que também foi rebatida por Marina.
A ofensiva dos senadores do Norte ocorre em meio à pressão por flexibilização do licenciamento ambiental, especialmente para obras como a pavimentação da BR-319 e a exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Essas pautas são centrais para a base eleitoral dos parlamentares da região, que buscam se posicionar como defensores do “desenvolvimento” frente ao que chamam de entraves ambientais impostos por Brasília. O embate público com Marina Silva, figura reconhecida globalmente na luta pela defesa do meio ambiente, serve para projetar esses senadores e consolidar apoios locais para a corrida eleitoral de 2026, que está logo aí.
Referência internacional e COP30 no Brasil
O ataque à ministra ocorre em um momento em que o Brasil se prepara para sediar a COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em novembro, na capital do Pará, Belém. No coração da Amazônia. O evento colocará o país e a região amazônica no centro das discussões globais sobre clima, destacando a importância da proteção ambiental e do desenvolvimento sustentável.
Marina Silva, hoje à frente do Ministério do Meio Ambiente, é reconhecida internacionalmente por sua história de décadas em defesa do meio ambiente, dos povos tradicionais e do desenvolvimento sustentável. Muito por sua história pessoal: a biografia de Marina começa com uma infância vivendo em palafitas na periferia de Rio Branco, capital do Acre, com situações em que o próprio desmatamento afetou a sua saúde e de membros da sua família, com irmãs falecendo por inúmeras doenças, como malária e sarampo. A ministra é reservada, mas a mesma também sofre até hoje por sequelas de doenças que poderiam ter sido evitadas com o controle ambiental da região, como malária, hepatite, leishmaniose e contaminação por mercúrio.
Marina já recebeu honrarias como o Goldman Environmental Prize, considerado o “Nobel do Meio Ambiente”. Foi reconhecida como “Campeã da Terra” pela ONU, e nomeada uma das 100 lideranças climáticas mais influentes do mundo pela revista Time.
Reações e solidariedade
A postura dos senadores do Norte foi rapidamente repudiada pelo governo Lula, com destaque para as ministras. Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) classificou as falas como “totalmente ofensivas e desrespeitosas com a ministra, a mulher e a cidadã”. Anielle Franco (Igualdade Racial) e Margareth Menezes (Cultura) também prestaram solidariedade, denunciando a violência política de gênero e raça. O presidente Lula também ligou para a ministra Marina Silva que, após deixar a sessão, declarou: “Me senti agredida, mas não intimidada”.
O episódio revela uma estratégia clara: transformar o embate ambiental em arma eleitoral. Ao confrontar Marina Silva em público, senadores como Plínio Valério, Marcos Rogério e até Omar Aziz (PSD-AM), aliado de primeira hora do governo federal, buscam se afirmar como porta-vozes dos interesses do Norte, em um discurso que tenta opor “desenvolvimento” e “proteção ambiental”.