O apoio da opinião pública à megaoperação de combate ao crime organizado no Rio de Janeiro, mesmo diante de sua elevada letalidade, levou o tema da segurança pública a assumir o protagonismo na agenda política, fornecendo à direita uma narrativa.
Também têm ajudado a oposição os equívocos cometidos pelo governo. Além da demora do presidente Lula (PT) em se posicionar, ele deu declarações politicamente equivocadas, como classificar a operação de “desastre” e “matança”, colocando-se no campo oposto a cerca de 65% da sociedade.
Ainda que o presidente tenha enviado ao Congresso o PL Antifacção, essa pauta poderá ser apropriada pela oposição, com indicação do secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP-SP), que se desincompatibilizou do cargo, reassumindo o mandato de deputado, como relator do PL. Além de beneficiar o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Derrite pode ganhar força como candidato a senador ou governador.
Embora o Palácio do Planalto tenha conseguido eleger o senador Fabiano Contarato (PT-SE) como presidente da CPI do Crime Organizado, bem como adiar a votação do projeto que equipara facção a terrorismo, é possível que as próximas pesquisas apontem um aumento da desaprovação a Lula, o que não ocorria desde o tarifaço dos Estados Unidos contra o Brasil.
O desgaste do governo na segurança pública, com a provável perda de popularidade do presidente, traz a seguinte questão: a megaoperação de combate ao crime tem o potencial de reverter a vantagem de Lula na sucessão presidencial de 2026?
Apesar de a oposição ter conseguido construir um discurso que gerou ressonância na sociedade, ainda é cedo para sabermos se essa pauta terá fôlego. Com o Planalto apostando na repercussão da COP30, na aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil mensais e na negociação com os Estados Unidos sobre o tarifaço, manter a pauta da segurança pública “aquecida” desafiará a oposição.
Por ora, mesmo com o desgaste de Lula, a direita continua dividida. Além de a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) ter marcado o julgamento da denúncia contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por coação, o que poderá torná-lo inelegível, o clã Bolsonaro resiste a abrir mão de seu protagonismo na cena política. Na semana passada, Eduardo voltou a atacar Tarcísio, referindo-se a ele como “o candidato do sistema”.
Mesmo que a agenda da segurança perca intensidade, o tema continuará pressionando o governo. Como a segurança é a principal preocupação dos eleitores, Lula terá de encontrar um discurso nessa área para além da “asfixia financeira” aos grupos criminosos. A direita, por sua vez, não poderá se manter refém somente dessa agenda, sob o risco de ficar com uma narrativa monotemática.

