Na última semana, Juscelino Filho (União-MA) pediu demissão do Ministério das Comunicações, após a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciá-lo por suspeita de desvio de emendas parlamentares. Embora se trate de um ministro de Estado, a saída e a motivação do fato geram menos desgaste para o governo do que seria de esperar.
Primeiro, porque Juscelino era uma indicação do União Brasil, e não uma indicação pessoal do presidente Lula (PT). Segundo, porque os fatos narrados na investigação ocorreram supostamente em 2022, quando o agora ex-ministro estava no exercício do mandato de deputado federal. E, por fim, a pressão acaba recaindo mais sobre o partido, que já está tendo de lidar com brigas internas por conta da escolha do sucessor de Juscelino.
Dias após o pedido de demissão, o Palácio do Planalto anunciou que o deputado Pedro Lucas, líder do União Brasil na Câmara, assumiria o cargo. Entretanto, a notícia desencadeou uma disputa interna para decidir quem ocuparia o cargo de líder do partido na Casa, o que fez o possível sucessor de Juscelino emitir um comunicado afirmando que discutiria o convite do governo com a bancada do União na Câmara. Além disso, outra discussão que deve voltar à carga são as investigações em torno de possíveis desvios de recursos de emendas. Isso coloca ainda mais pressão no União e em outras siglas do Congresso que possuem membros e parlamentares investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A imagem do União ficou um pouco mais desgastada com a incerteza sobre a aceitação do convite por Pedro Lucas. O nome do deputado foi chancelado por um dos membros mais fortes da legenda, o presidente do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (União-AP), e a indefinição revela ainda mais a turbulência por que passa a sigla. Vale ressaltar que Alcolumbre está buscando ampliar a presença de senadores na Esplanada dos Ministérios, e uma pasta comandada pelo próprio partido seria crucial neste momento, mesmo se tratando de um deputado.
A situação também não ajuda o governo do ponto de vista da tão aguardada Reforma Ministerial. A troca seria pontual, e a única indicação que se pode tirar é que o União deve permanecer com a participação atual na composição do governo. Por outro lado, a situação pode, na verdade, dar uma tímida favorecida ao governo do ponto de vista das negociações. No fim, com as disputas internas e o envolvimento em investigações no partido, o Executivo ganha mais armas para usar em eventuais pedidos de cargos e acordos com o União.