Mesmo com a continuidade das negociações, a Reforma Ministerial do governo Lula enfrenta dificuldades, em especial na relação com o agronegócio. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), viu sua posição fragilizada após uma série de decisões do governo que não agradaram ao setor.
O fator mais recente de atrito foi a decisão de zerar impostos de importação para produtos da agricultura e pecuária com produção nacional, como milho, óleo de girassol, café, carnes e açúcar. Apesar de o objetivo anunciado ser a contenção da inflação no preço dos alimentos, membros da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) interpretaram a decisão como uma forma de pressionar os produtores brasileiros a reduzir preços. Isso porque, segundo o grupo, não há escassez de oferta interna.
O desconforto, porém, vem de embates anteriores. De forma semelhante, o governo autorizou a importação de arroz, em meio às enchentes no Rio Grande do Sul, em 2024. A medida, ainda que envolta na ideia de uma compra emergencial, não foi bem recebida pelos produtores, que, naquele momento, já tinham colhido 80% da produção. A situação foi agravada com o congelamento da liberação de recursos do Plano Safra, que libera crédito para a agricultura, que o governo colocou na conta da falta de aprovação do Orçamento de 2025. Outro ponto de atrito ocorreu em fevereiro, quando o governo congelou o aumento da mistura de biodiesel, frustrando os produtores de soja.
A possível substituição de Fávaro, no entanto, esbarra na falta de um nome de consenso e na dificuldade efetiva de se resolver a relação – adiantaria apenas mudar o ministro? questionam os parlamentares. Entre os cotados, esteve o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que negou à Arko a possibilidade de assumir o cargo. O afastamento do Progressistas do governo dificulta esse arranjo. Outro nome considerado foi o do deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), que também negou qualquer convite para assumir o cargo.
Mesmo com o desgaste, a FPA diz manter o diálogo com o Planalto e com o Ministério da Agricultura, indicando que não rompeu completamente a relação. No entanto, como alertou o ex-presidente da bancada, Sérgio Souza (MDB-PR), em entrevista recente ao Política Brasileira, caso as demandas do setor continuem sendo ignoradas, o grupo avalia bloquear as pautas do governo. Diante da possibilidade de encontrar dificuldades com a bancada mais forte do Congresso, o Palácio do Planalto precisará encontrar um equilíbrio se quiser avançar com sua agenda legislativa prioritária.
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