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Análise: Pix une esquerda e direita como símbolo de identidade nacional

Figuras distantes do espectro político entendem que só podem defender a ferramenta de pagamentos brasileira

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O presidente Lula (PT) vem buscando consolidar o Pix, sistema de pagamentos instantâneos criado por servidores do Banco Central (BC), como um dos pilares inegociáveis de sua política econômica e externa. O presidente tem sido enfático: a ferramenta, elogiada por economistas internacionais e adotada por 76% dos brasileiros, não será colocada à mesa de negociações, mesmo diante das recentes pressões do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O Pix, prestes a completar meia década do seu lançamento, já se tornou uma espécie de símbolo de identidade nacional, agradando cidadãos dos mais diversos espectros políticos. Sua popularidade decorre da praticidade, dos baixos custos e da capacidade de inclusão financeira — hoje, cerca de 60 milhões de brasileiros sem cartão de crédito utilizam o Pix, e esse número tende a crescer com o lançamento do Pix Parcelado, agora em setembro. A nova funcionalidade permitirá a consumidores parcelar compras mesmo sem cartão de crédito, o que vem preocupando ainda mais o mercado das empresas de cartão, especialmente as com sede norte-americana, que hoje estão tendo a ajuda de Trump para tentar frear a ferramenta brasileira.

Nesse contexto, o governo Trump colocou o Pix no centro de uma investigação por supostas práticas comerciais desleais. O relatório oficial do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) aponta que o Brasil “parece favorecer serviços de pagamento desenvolvidos pelo governo”, o que motivou um inquérito que pode resultar em novas sanções contra o país. O pano de fundo, segundo especialistas, é a perda de espaço das empresas norte-americanas de cartão de crédito para o sistema brasileiro, com potencial de abalar profundamente um setor que tradicionalmente lucra alto no Brasil.

O governo Lula vem reagindo com veemência. O presidente classificou como “chantagem inaceitável” a pressão dos EUA, e afirmou que protegerá o Pix como patrimônio dos brasileiros.

Até mesmo figuras da oposição, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), saíram em defesa da ferramenta. Embora tente capitalizar politicamente a criação do Pix, que na realidade começou a ser criado por servidores públicos nos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), Bolsonaro reconhece a força política de uma ferramenta com tanto apoio da população em geral.

Em síntese, o Pix transcendeu o debate técnico: tornou-se símbolo de soberania econômica e inclusão social. Qualquer ataque ao sistema, seja de fora ou de dentro do Brasil, esbarrará não só em argumentos econômicos sólidos, mas também num consenso popular poucas vezes visto na história recente do país.

Autor

  • Jornalista formado pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Com experiência em Política, Economia, Meio Ambiente, Tecnologia e Cultura, tem passagens pelas áreas de reportagem, redação, produção e direção audiovisual.

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