A recente declaração do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, de que o partido apoiará uma eventual candidatura presidencial em 2026 do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), embute certo otimismo que pode não se concretizar. Isso porque o sistema que rege o partido é uma espécie de “unidade dentro da divergência”.
Fundado por Kassab em 2011, o PSD é considerado um dos casos de sucesso da política nacional. Hoje, 14 anos após sua criação, tornou-se uma das maiores legendas do país, com o maior número de prefeitos, quatro governadores e expressiva representação no Congresso Nacional e nas demais Casas Legislativas.
O segredo desse crescimento está, justamente, na flexibilidade ideológica e política. Desde o início, Kassab declarou que o partido não se alinharia rigidamente a nenhum espectro político, embora, em geral, seja classificado como de centro. Essa liberdade de posicionamento o transformou em um abrigo preferencial para políticos oriundos de legendas que não sejam de esquerda.
Um dos diferenciais da gestão partidária no PSD é a autonomia concedida aos diretórios regionais. Ao contrário de outras agremiações, nas quais a direção nacional impõe uma linha política verticalizada, no PSD os comandos estaduais têm liberdade para definir os próprios rumos. Desde sua estreia em eleições presidenciais, a sigla participou de duas coligações: em 2014, apoiou a reeleição de Dilma Rousseff (PT); em 2018, integrou a aliança em torno de Geraldo Alckmin (então no PSDB). Já em 2022, diante da polarização, ensaiou lançar candidatura própria com o senador Rodrigo Pacheco (MG), mas acabou sem chapa presidencial e permaneceu “em cima do muro” na disputa.
Essa aparente ausência de coesão política é, paradoxalmente, um dos pilares do sucesso do PSD. Atualmente, o partido compõe a base do governo Lula ao mesmo tempo que abriga quadros na oposição. Nesse contexto, a declaração de Kassab soa dissonante em relação à própria essência da legenda. “Fincar o pé em uma única canoa” não é prática comum entre os pessedistas. Caso insista nesse caminho, Kassab poderá provocar disputas internas e, possivelmente, a saída de filiados.
Há um número relevante de diretórios estaduais do PSD que rejeitam a ideia de apoiar Tarcísio em detrimento do presidente Lula (PT). Lideranças como os ministros Alexandre Silveira (MG) e Carlos Fávaro (MT); os senadores Otto Alencar (BA), Omar Aziz (AM), Zenaide Maia (RN) e Irajá Abreu (TO); e o prefeito Eduardo Paes (RJ), todos comandam o partido em seus respectivos estados. Além deles, outros diretórios locais tendem a marchar com Lula. Some-se a isso o fato de que dois governadores do PSD – Ratinho Júnior (PR) e Eduardo Leite (RS) – são apontados como possíveis pré-candidatos à Presidência. Esse labirinto político pode, no final, levar Kassab a rever sua posição.