A megaoperação de combate ao crime organizado realizada na cidade do Rio de Janeiro, na semana passada, deve impactar também a disputa de 2026 pelo Palácio Guanabara, que está cercada de indefinições.
A primeira incógnita gira em torno da desincompatibilização ou não do governador Cláudio Castro (PL) para disputar o Senado. Caso Castro seja candidato a senador, o presidente da Assembleia Legislativa do estado, Rodrigo Bacellar (União), assumiria o governo fluminense, disputando a eleição no exercício do cargo. Se Castro não disputar o Senado, Bacellar seria candidato a governador sem estar à frente do Palácio Guanabara.
Outra variável que deve impactar a sucessão fluminense passa pelo julgamento da ação que poderá levar à cassação de Cláudio Castro, marcado para a próxima terça-feira (4) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A ação também se estende a Rodrigo Bacellar e ao ex-vice-governador Thiago Pampolha (MDB), que deixou o cargo em maio para assumir uma vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Eles são acusados de abuso de poder político e econômico envolvendo o financiamento de projetos e programas da Fundação Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro (Ceperj) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em 2022. Vale lembrar que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) havia absolvido Castro, Pampolha e Bacellar. Chama atenção o fato de o julgamento no TSE ter sido marcado no dia seguinte à deflagração da megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha.
Caso o TSE decida pela cassação dos mandatos de Cláudio Castro e Bacellar, quem assume o governo é o presidente do Tribunal de Justiça (TJ), o desembargador Ricardo Couto de Castro, que precisará convocar novas eleições, a serem realizadas indiretamente na Assembleia Legislativa. No caso de cassação, que pode se desdobrar para uma eventual consequência de inelegibilidade, o grande beneficiado seria o candidato da oposição, o prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD), que já lidera as pesquisas de 2026 com ampla vantagem.
Sob uma perspectiva reversa do efeito negativo e imediato da eventual cassação de Castro e Bacellar pelo TSE, a centro-direita conectará a decisão ao contexto da operação de combate ao crime (bem-recebida em setores importantes da sociedade), buscando firmar a narrativa de que teria havido uma interferência do Judiciário, estimulada pela oposição nacional, no processo político do Rio. Sob esse prisma, no que diz respeito à disputa pelo governo do estado, poderá ganhar tração o nome do secretário estadual de Polícia Civil, Felipe Curi, que vem obtendo visibilidade, conta com a bênção do clã bolsonarista e será testado em novas pesquisas.
Já num cenário de absolvição, a disputa pela candidatura ao governo, que vem fragmentando a própria centro-direita, seguirá com a trama que está posta, porém Castro sairá fortalecido para uma possível disputa ao Senado. Recorde-se que, em 2010, após uma operação de combate ao crime organizado realizada no Complexo do Alemão, o então governador Sérgio Cabral registrou uma expressiva melhora de popularidade. De acordo com a pesquisa Datafolha da época, a aprovação de Cabral cresceu de 41% para 55%.
Importante sinalizar que, muito embora Eduardo Paes permaneça como favorito, é necessário aguardar os desdobramentos dos novos fatos, que possuem potencial para impactar o cenário eleitoral de 2026.
Paes, por exemplo, parece ter submergido desde a megaoperação. Tal submersão pode ter viés estratégico, justamente para evitar tensionar o movimento que vem fazendo: ao mesmo tempo que acena para o apoio público de Lula, busca mais alianças de centro-direita, com o intuito de tentar superar sua impopularidade no interior do estado.
Alguns dados podem ilustrar a complexidade da situação para Paes, quais sejam: 1) em 2018, Jair Bolsonaro (PL) venceu Fernando Haddad (PT) por 67,95% a 32,05% dos votos válidos; 2) em 2022, Bolsonaro derrotou Lula (PT) por 51% a 40,7%; e 3) em 2024, o PSD e o PT conquistaram três prefeituras cada um, enquanto a centro-direita dominou, com PL (22), PP (17), União Brasil (12) e MDB (9).

