Após a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ter sido mantida na audiência de custódia ocorrida neste domingo (23), as atenções se voltam para a sessão virtual da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que ocorrerá nesta segunda-feira (24), a pedido do ministro Alexandre de Moraes, do STF, para referendar a prisão preventiva, que deve ser mantida.
Paralelamente às questões jurídicas, teremos consequências políticas importantes. Nas horas posteriores à prisão do ex-presidente, o clã Bolsonaro deverá intensificar a narrativa antiestablishment, tendo como alvo o Supremo, sobretudo Moraes. O núcleo mais fiel a Jair Bolsonaro deve pressionar o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), a pautar o projeto de lei (PL) da anistia. Também podem ocorrer articulações em favor de protestos nas ruas pró-Bolsonaro.
Mesmo com a tentativa de mobilização do bolsonarismo, a direita deverá continuar fragmentada. Desde a prisão preventiva de Jair Bolsonaro, o núcleo familiar do ex-presidente aposta na narrativa da vitimização. Também tem sido observada uma aposta na religião com o objetivo de mobilizar as comunidades evangélicas, importante base de apoio de Bolsonaro.
No último sábado (22), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) chamou Alexandre de Moraes de “tirano” e “psicopata”, além de acusar o ministro do STF de tentar “assassinar” seu pai. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) agradeceu as orações por seu marido e disse que confia na “justiça de Deus”.
No clã Bolsonaro, quem assumiu a defesa do legado de Jair Bolsonaro foi o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Além da realização de uma live nas redes sociais, Flávio liderou a vigília que ocorreu no sábado à noite em frente ao condomínio onde o ex-presidente reside, em Brasília (DF).
A prisão preventiva também foi criticada pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara. De acordo com o presidente Lula (PT), a prisão não se justifica e “reabre as feridas da polarização política”. O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, também prestou solidariedade ao ex-presidente, afirmando que a detenção é uma “medida jurídica severa”.
Entre os governadores que despontam como possíveis presidenciáveis, quem protagonizou a defesa de Jair Bolsonaro foi o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Tarcísio disse que Bolsonaro tem enfrentado “ataques e injustiças com a firmeza e a coragem de poucos”. Disse ainda que Bolsonaro é inocente e que “o tempo mostrará”.
A tendência é que o clã Bolsonaro aposte na agenda da anistia no âmbito do Congresso. Porém, após o ex-presidente ter admitido que tentou violar a tornozeleira eletrônica – reforçando as suspeitas de uma suposta tentativa de fuga –, o avanço do PL da Anistia tende a enfrentar obstáculos.
No Congresso, conforme ocorreu em agosto, o bolsonarismo poderá obstruir as votações. Ainda que os aliados do ex-presidente tentem mobilizar as redes e programar protestos nas ruas, a prisão de Bolsonaro pode dificultar a capacidade de mobilização de sua base social.
Flávio, que tem sido cogitado como alternativa presidencial para 2026, também pode se tornar alvo de Moraes, já que o ministro citou o senador na decisão sobre a prisão preventiva de Jair Bolsonaro, ao afirmar que a convocação de uma vigília e orações em frente ao condomínio eram um indicativo de “repetição do modus operandi da organização criminosa liderada por Jair Bolsonaro”.
Tarcísio, mesmo defendendo Jair Bolsonaro, e tendo o apoio do centrão e dos principais setores econômicos do país, não deve, no curto prazo, conseguir unir a direita, já que a prioridade do clã Bolsonaro será a defesa do legado do ex-presidente, e não a discussão sobre seu sucessor.
Mesmo que a prisão continue dividindo a opinião pública, a rejeição ao clã Bolsonaro pode ficar mais consolidada, reduzindo a viabilidade eleitoral de um nome ligado à família.
Quem se beneficia disso é Lula, já que a prisão de Jair Bolsonaro fortalece a polarização do lulismo x bolsonarismo, deixando momentaneamente em segundo plano o debate sobre a segurança pública, que vem desgastando Lula.
Neste novo momento da conjuntura, a direita terá o desafio de construir um projeto alternativo ao lulismo que consiga unir a oposição mesmo sem Jair Bolsonaro.

