Na última semana, a articulação dos deputados pela derrubada da MP que tributa títulos isentos (MP nº 1.303/25) tinha como objetivo, principalmente, não ajudar as contas do governo Lula em ano pré-eleitoral. Esse movimento da Câmara dos Deputados evidenciou que, a partir de agora, a tendência é que matérias de grande impacto serão apreciadas considerando-se as eleições presidenciais de 2026.
Essa tendência pode dificultar a articulação política do governo. Caso o quadro da votação da MP se repita nos próximos momentos, a força do governo na Casa pode ficar ainda mais reduzida. É o caso do PSD, por exemplo, que possui três ministros na Esplanada – Carlos Fávaro (Agricultura); Alexandre Silveira (Minas e Energia); e André de Paula (Pesca) – e, mesmo assim, tentou conciliar a votação com os interesses do pré-candidato da sigla para 2026, Ratinho Júnior (PSD), atual governador do Paraná.
Além disso, mais da metade do Republicanos, que tem Silvio Costa Filho em Portos e Aeroportos na Esplanada, votou contra a MP. Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo cotado como um dos principais adversários do presidente Lula (PT) para 2026, teria atuado nessa articulação.
A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), já sinalizou que o governo vai priorizar a redução da jornada de trabalho e a MP do Gás do Povo (MP nº 1.313/25). Ambas as medidas são propostas com amplo apelo social e que garantiriam boas perspectivas para a popularidade de Lula. Assim, é possível que a discussão seja contaminada por interesses eleitorais. Vale lembrar que, até o momento, a Comissão Mista de análise da MP não foi instalada e a previsão é de que ela perca a validade no início de novembro, caso não seja prorrogada.
Além dessas pautas, o governo quer a votação da PEC da Segurança Pública (PEC nº 18/25), da regulamentação das big techs, do Orçamento de 2026, além de dar andamento às propostas compensatórias pela perda da MP nº 1.303/25. Todos esses debates podem sofrer interferência diante do cenário pré-eleitoral e a tendência é que a interferência se intensifique à medida que o pleito se aproxima. Até mesmo a isenção do Imposto de Renda no Senado Federal, sob a relatoria do senador Renan Calheiros (MDB-AL), pode ser contaminada pela relação conflituosa com o deputado Arthur Lira (PP-AL), que relatou o texto na Câmara. Lira e Renan são adversários políticos em Alagoas.
Assim, tudo indica que, antes do início do período eleitoral em 2026, o tema já comece a ser considerado nos principais debates do Congresso Nacional. Portanto, em meio a esse ambiente, caberá ao governo saber articular a aprovação das medidas mais importantes e prioritárias para ele, sobretudo se o “centrão” se movimentar para eleger um candidato que não seja Lula.

