Duas importantes mudanças partidárias ocorridas na semana passada devem trazer reflexos sobre a sucessão de 2026: 1) a criação da “Superfederação” entre PP e União Brasil, batizada de União Progressista; 2) e o avanço das negociações entre o PSDB e o Podemos, que devem culminar em uma fusão e a criação de uma nova legenda.
Embora PP e União Brasil sejam partidos heterodoxos, integrando a base do governo Lula e, ao mesmo tempo, relacionando-se com o bolsonarismo, a federação União Progressista sinalizou um alinhamento com o campo da direita para 2026. Não por acaso, o manifesto de criação da “Superfederação” defende pautas como “um choque de prosperidade” e “menos intervenção do Estado na economia”.
O PP e o União Brasil somam 109 deputados, 14 senadores, 6 governadores e mais de 1.300 prefeitos. Juntas, as duas legendas terão, ainda, robustos recursos dos fundos partidário e eleitoral, além de dispor do maior tempo de televisão no horário eleitoral gratuito. Diante de tal força política, a União Progressista será muito cobiçada para 2026. Hoje, o presidenciável da “Superfederação” é o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil).
O PSDB, ao avançar nas negociações para uma fusão com o Podemos, a ser confirmada em convenção no dia 5 de junho, contará com uma estrutura bem mais modesta: 28 deputados federais, 7 senadores, 2 governadores e 400 prefeitos. Bastante enfraquecido desde as eleições de 2018, o PSDB tenta manter o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), no novo partido. No dia 6 ele deve se filiar ao PSD.
Os tucanos, que já perderam a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, para o PSD, podem ficar também sem o governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, que deve migrar para o PSD ou o PL. Assim, o novo partido poderá ficar sem governadores.
Com a provável conquista de Eduardo Leite, a força do PSD aumentará, já que o partido contará com dois pré-candidatos ao Palácio do Planalto para 2026: o próprio Eduardo Leite e o governador do Paraná, Ratinho Júnior, que já é filiado ao PSD.
Embora os movimentos realizados pela União Progressista (PP e União Brasil), por PSDB e Podemos e pelo PSD não tenham sido articulados conjuntamente, esses partidos sinalizam que estão mais distantes do governo Lula enquanto analisam o andamento da conjuntura e esperam para ver o que fará o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Por ora, a insistência de Bolsonaro em sair candidato à Presidência em 2026, mesmo estando inelegível, trava as articulações no campo da direita.
Hábil observador do cenário político, o presidente nacional do PSD e secretário de Governo e Relações Institucionais do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo, Gilberto Kassab, declarou que somente Tarcísio conseguiria unir a centro-direita – PP, União Brasil, PSDB, Podemos e PSD. Uma eventual candidatura de Tarcísio também atrairia o MDB e o Republicanos. Caso o candidato não seja Tarcísio, a centro-direita deve se dividir em 2026. Entretanto, deverá estar aglutinada no segundo turno em torno do antagonista de Lula.
Kassab aposta neste momento que Tarcísio será candidato à reeleição em São Paulo, disputa em que o governador paulista é o favorito. Além disso, Tarcísio tem afirmado que não é candidato a presidente, pois apoia Jair Bolsonaro. Contudo, esse cenário não é definitivo, sobretudo se ocorrer um aceno de Bolsonaro em direção a Tarcísio.
Há também nesse jogo o nome da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) como alternativa. Tais indefinições no campo da direita, mesmo que atrapalhem as negociações e a construção do candidato anti-Lula, devem se postergar até o fim de abril do próximo ano, prazo-limite de desincompatibilização.
Enquanto isso, as pré-candidaturas de Ronaldo Caiado e Ratinho Júnior seguirão no páreo. O mesmo passará a ocorrer com Eduardo Leite, a partir do momento em que confirmar sua filiação ao PSD. Também não podemos esquecer o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).
O desgaste registrado pelo presidente Lula (PT), em que pese sua leve recuperação na popularidade, combinada com a inelegibilidade e a considerável rejeição ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), leva a centro-direita a se movimentar.
O candidato desejado por esse campo tem o perfil de Tarcísio de Freitas, que depende de Jair Bolsonaro para, eventualmente, disputar o Planalto. Enquanto a indefinição persiste, a União Progressista, o PSDB e o Podemos, além do PSD, aguardam os desdobramentos da conjuntura. Mais distantes de Lula e com resistências em apoiar um candidato bolsonarista raiz, eles visam construir um nome de direita pragmático.