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Análise: Mudanças ministeriais e estratégias eleitorais

As mudanças refletem não apenas ajustes imediatos, mas também a preparação do terreno político para 2026

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Nos próximos dias, o presidente Lula (PT) deve anunciar mudanças ministeriais, contemplando mexidas à esquerda e à direita. Uma delas será a nomeação do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) para a Secretaria-Geral da Presidência, em substituição ao petista Márcio Marcelo. Cogitada há meses, a troca busca fortalecer o diálogo com os movimentos sociais, base estratégica do governo.

Boulos, que em 2022 foi o deputado mais votado da esquerda (mais de 1 milhão de votos), também teve destacada participação nas eleições municipais de 2024 em São Paulo, quando chegou ao segundo turno e foi derrotado por Ricardo Nunes (MDB). Consolidado como uma das principais lideranças da esquerda, ele pode ampliar núcleos de militância e reforçar o projeto de reeleição de Lula em 2026.

Forçado pela decisão da Federação União Progressista (União Brasil e PP), que proibiu filiados de integrar o governo, o presidente também precisa lidar com a saída dos ministros do Turismo, Celso Sabino (União), e do Esporte, André Fufuca (PP). Sabino já anunciou a saída, marcada para o fim desta semana; Fufuca deve deixar o cargo nos próximos dias. Ambos, porém, ainda articulam em seus respectivos partidos a permanência no posto até abril do próximo ano, já que pretendem disputar o Senado em 2026 e veem no suporte de Lula um trunfo fundamental.

A substituição desses ministros envolve mais que ajustes administrativos: afeta a governabilidade e o xadrez eleitoral. O ideal para o Planalto seria mantê-los, já que as duas pastas, além de estruturas como a Codevasf e a Caixa, controladas por União e PP, garantem votos cruciais no Congresso.

A ampliação da presença de outros partidos de centro/direita que já integram o governo, como MDB, PSD e Republicanos, também é uma possibilidade. Nesse grupo, uma opção seria a indicação do deputado Pedro Paulo (PSD-RJ) para o Turismo.

A estratégia de Lula é preservar aliados em legendas que tendem a não integrar sua campanha em 2026, a fim de diversificar o leque de apoios. O plano eleitoral combina coligação formal com partidos de esquerda e alianças pontuais com grupos de centro e direita. Para isso, Lula deve bancar algumas candidaturas de outros ministros mais à direita, como Silvio Costa Filho (Republicanos), Simone Tebet (MDB) e Alexandre Silveira (PSD).

Partidos de esquerda, como PDT e PSB, também almejam ocupar esses cargos. Agraciá-los seria uma forma de valorizar esse núcleo ideológico mais alinhado ao governo. Entretanto, isso não resultaria em ampliação da base de apoios ao governo e dificilmente devem  embarcar em outro projeto político.

Com isso, as mudanças ministeriais refletem não apenas ajustes imediatos, mas também a preparação do terreno político e eleitoral para 2026, já que buscam equilibrar apoios da esquerda com a necessidade de manter canais abertos ao centro e à direita.

Autor

  • Jornalista, analista político e consultor. Pós-graduado em Processo Legislativo, com mais de 20 anos de experiência no acompanhamento do Congresso Nacional. Um observador atento da cena política no parlamento.

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