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Análise: Megaoperação policial no RJ sacode o tabuleiro político nacional e local

Tensionamento entre o presidente Lula (PT) e o governador Cláudio Castro (PL) pode respingar em postulantes ao cargo de governador de Estado e estimular o surgimento de novos players

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A megaoperação policial realizada no Rio de Janeiro (28/out) trouxe, como resposta imediata, consequências políticas que repercutem tanto no âmbito federal quanto estadual.

O tema da segurança pública já vem ocupando, há anos, espaço na agenda política e, está colocado, antes mesmo da realização da referida megaoperação policial, no centro do debate político das eleições 2026. De longe, será o tema mais caro.

Alguns movimentos dos principais postulantes ao cargo de governador do estado já vinham sendo observados, a reviver: o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União), capitaneou o debate sobre a criação do Estatuto das Blitzes e sobre o Pacote de Enfrentamento ao Crime, ambos já sancionados, e, também influenciou no debate que resultou na nova lei complementar que altera a Lei Orgânica da Polícia Civil – na Alerj ainda tramitam projetos que versam sobre a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros. Eduardo Paes (PSD), guardadas as proporções estruturais e de competências, protagonizou a nova legislação municipal que criou a Divisão de Elite da Guarda Municipal (GM-Rio), a qual poderá fazer uso de arma de fogo para auxiliar no equilíbrio da ordem.

A própria direita, nesse contexto, viu-se em enfrentamentos diretos, a exemplo da manobra que Rodrigo Amorim (União), líder do governo na Alerj, fez, junto a Bacellar e outros deputados que compõem a “bancada da bala”, ao alterarem projetos do governador Cláudio Castro (PL) para propor a “gratificação faroeste” a policiais que matarem criminosos em confrontos e apreenderem armamento de grosso calibre.

Nota-se, porém, que a megaoperação escalou o tema para o âmbito federal. Governo Lula (PT) se viu numa encruzilhada, mas, inicialmente, geriu a crise com narrativa que responsabilizava Castro. Num revés, após indícios de que sua postura não estava tendo respaldo popular, associados a denúncia de Cláudio de Castro sobre órgãos do governo federal terem recusado apoio a operação – motivo que gerou tensão entre a Polícia Federal (PF) e o Ministério da Justiça e Segurança Pública, após PF sinalizar que Castro solicitou apoio, mas a instituição considerou não ser necessário -, houve abrupta mudança de narrativa e postura.

Fato complicador, que tem potencial custoso, é que o presidente Lula (PT) demorou para se pronunciar, visto a gravidade do ocorrido, e, optou por submergir e delegar a outros players do governo a responsabilidade de condução da crise. Quando o fez, na rede X, foi de forma considerada genérica, sinalizando a necessidade de combate ao crime organizado e, numa perspectiva de defensiva, recordando a operação Carbono Oculto (alvo PCC, sobre venda de drogas, adulteração de combustível e lavagem de dinheiro) e, sobretudo a PEC da Segurança, capitaneada pelo governo e que tramita no Congresso Nacional, como o divisor de águas para, nas palavras de Lula, “garantir que as diferentes forças policiais atuem de maneira conjunta no enfrentamento às facções criminosas”.

Ocorre que a sinalizada omissão do governo federal se soma a outros eventos controversos, como exemplos: i) a recente postagem de Lula nas redes sociais com fala divulgada como problemática, na qual extraiu-se: “[…]os usuários são responsáveis pelos traficantes, que são vítimas dos usuários[…]” e, ii) o posicionamento contrário, em 2023, sobre a possibilidade de decretação de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem: “[…]eu não quero as Forças Armadas nas favelas brigando com bandidos. Não é esse o papel das Forças Armadas. E enquanto eu for presidente, não tem GLO[…]”. 

A tônica da narrativa do governo federal precisa mudar, a partir de agora, e deve se concentrar na unificação do discurso interno para reverter a repercussão negativa de seus posicionamentos e ações e, ao mesmo tempo, buscar caminhos para contestar a confiabilidade da atuação de Cláudio Castro – alguns movimentos já são observados, nas duas vertentes, dentre os quais: i. a criação do Escritório de Enfrentamento ao Crime Organizado em conjunto com o governo fluminense, ii. a utilização dos canais de comunicação para divulgar propagandas e ações do governo em prol do combate ao crime organizado, iii. a solicitação para que o Supremo Tribunal Federal (STF) cobre explicação de Castro sobre a validade da megaoperação e, iv. a provocação para que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dê prosseguimento ao julgamento do caso que pode levar à cassação e inelegibilidade de Castro.

Naturalmente, esses movimentos descritos também trazem impacto no cenário político estadual. A conexão mais emblemática, que busca acertar dois coelhos com uma cajadada, é o prosseguimento do processo do TSE, que além de Castro atinge Bacellar.

Eduardo Paes (PSD), numa saída considerada estratégica, optou por submergir e se manifestar, sucintamente, a favor do motivo da operação – combater o crime – sem adentrar no debate sobre o mérito da forma. Afinal, Paes também se vê numa encruzilhada. 

Vale recordar que o prefeito da capital fluminense, outrora, alinhou-se ao governo estadual para criticar a ADPF das Favelas e, tem como desafio, para capitalizar-se no pleito de 2026, angariar parcerias de centro-direita com vistas em ampliar seu alcance no interior do estado. Ao mesmo tempo, Paes é candidato de oposição e tem, não de agora, o apoio de Lula a sua candidatura. Importante comentar, também, que a população do RJ, majoritariamente, apoia a lógica de uma intervenção na segurança pública que está alinhada a política defendida por uma direita conservadora. Caminho que Paes tende a seguir.

Diante de todo o exposto, a retórica que soa mais sóbria e apaziguadora defende a integração entre as forças federal, estadual e municipal. Mas, a burocratização e as vaidades políticas são, efetivamente, o principal obstáculo para sua viabilização.

Como síntese de momento, temos que:

  1. Lula se depara com fato inesperado que evidencia erro político e pode trazer desgastes para a campanha de reeleição. A falta de postura contundente pode, inclusive, impactar na relação com Trump, visto que o presidente dos EUA fez movimentos para combater o crime organizado (tráfico de drogas) na Venezuela e, monitora o posicionamento de Lula sobre o tema.
  2. Castro pode tanto se capitalizar para a candidatura ao Senado quanto assumir protagonismo no campo da direita em virtude da alavancagem de pauta sensível à esquerda que tem repercussão (inter)nacional. Por outro lado, pode ver sua elegibilidade impedida.
  3. Bacellar vai a reboque de Castro, tanto na possibilidade de se tornar inelegível quanto na participação para construção de uma política pública de segurança mais firme e conservadora.
  4. Paes “acompanha” em posição privilegiada, que demanda muita cautela e habilidade. Recuar do debate, agora, pode significar avanço.
  5. Movimento recente do senador Flávio Bolsonaro (PL) e do deputado federal Altineu Côrtes (PL), que é presidente estadual do partido, ganha força e visibilidade, qual seja: a pretensão de testar nomes ligados às Forças Armadas e às polícias Civil e Militar, ao cargo de governador nas eleições de 2026. Nesse caso, ganham espaço o secretário da Polícia Civil, Felipe Curi, que outrora já havia sido postulado ao cargo de governador ou mesmo de deputado federal e, o secretário da Polícia Militar, Marcelo de Menezes, postulado como candidato ao cargo de deputado estadual.

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