Na reunião ministerial da semana passada, o presidente Lula (PT) emitiu sinais de qual será a estratégia do governo para a sucessão presidencial de 2026. Conforme vem ocorrendo desde o tarifaço contra o Brasil imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no início de agosto, o mote do nacionalismo passou a nortear as ações de Lula.
Não por acaso, na reunião ministerial Lula e parte dos ministros portaram um boné azul com a frase “O Brasil é dos brasileiros”. Com o objetivo de defender a soberania nacional, o slogan “União e Reconstrução” foi substituído por “Governo do Brasil, do lado do povo brasileiro”.
Dentro desse mote nacionalista estão inseridas críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), seu filho. Lula também continuará posicionando-se a favor da regulamentação das big techs, tema que desagrada a Donald Trump e à direita brasileira.
Desde o impacto negativo do tarifaço de Trump e do desgaste de Jair e Eduardo Bolsonaro, Lula encontrou na defesa da soberania uma marca para seu terceiro governo. Como vem ocorrendo desde 2022, ele busca manter “aquecida” a polarização com o bolsonarismo.
Seguindo essa estratégia, Lula começa a projetar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como seu adversário. Como consequência, Tarcísio será alvo do Palácio do Planalto. Na última sexta-feira (29), por exemplo, Lula disse que Tarcísio “não é nada” sem Jair Bolsonaro e que o governador “fará o que o ex-presidente quiser”.
Ainda que a defesa da democracia continue fazendo parte da narrativa governista, a mudança do slogan, conduzida pelo ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira, e a provável condenação do ex-presidente Bolsonaro na ação penal da trama golpista devem fazer com que a agenda democrática não tenha em 2026 o mesmo apelo que em 2022.
Embora Lula tenha se apropriado da narrativa nacionalista, tirando essa pauta do discurso bolsonarista, as dificuldades encontradas pelo governo brasileiro em negociar com os Estados Unidos poderão enfraquecer o apelo eleitoral dessa agenda até 2026.
Um indício disso pode ser observado no resultado das últimas pesquisas. Além de a desaprovação do governo continuar mais elevada que a aprovação, os pré-candidatos da oposição, mesmo sendo menos conhecidos do que Lula, demonstram competitividade nas simulações de segundo turno contra o presidente. Além disso, ao contrário de eleições anteriores, a força do lulismo hoje no Nordeste é menor.