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Análise: LAAD 2025 impulsiona indústria de Defesa brasileira e abre novas frentes de parcerias estratégicas

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A 15ª edição da LAAD Defense & Security, realizada entre 2 e 4 de abril de 2025 no Rio de Janeiro, consolidou-se como um marco para a Base Industrial de Defesa (BID) brasileira. Com mais de 400 expositores, cerca de 200 delegações oficiais e representantes de 40 países, a feira não apenas firmou contratos expressivos, como também abriu novas frentes de colaboração com gigantes da indústria global. Em um ambiente internacional tensionado por conflitos e disputas geoestratégicas, o evento reafirmou o potencial do Brasil como fornecedor confiável de soluções de defesa e segurança.

A conjuntura internacional e seus reflexos na LAAD

O prolongamento da guerra na Ucrânia, a tensão no mar da China Meridional e o fortalecimento de blocos militares como a OTAN estão remodelando prioridades de defesa em todo o mundo. Essa realidade ficou evidente na LAAD 2025, onde delegações de diversos países demonstraram forte interesse em tecnologias relacionadas a guerra eletrônica, ciberdefesa, munições inteligentes, drones e sistemas de defesa antiaérea — capacidades que ganharam centralidade nos conflitos contemporâneos.

A busca por fornecedores alternativos, com alto grau de confiabilidade e menor dependência política, abriu oportunidades concretas para a indústria brasileira. O Brasil, por não estar diretamente envolvido em disputas entre grandes potências e manter uma política externa de caráter pragmático, passou a ser visto como um parceiro estratégico e confiável — sobretudo por países da África, América Latina, Sudeste Asiático e Oriente Médio.

Atuação institucional e diplomacia da defesa

O Ministério da Defesa do Brasil teve participação ativa no evento, com cerca de 60 reuniões bilaterais realizadas com representantes de 30 países. O foco esteve na promoção da BID, na identificação de sinergias tecnológicas e no estímulo à cooperação em áreas como cibersegurança, comunicações criptografadas e modernização de tropas.

Essa atuação diplomática reforçou a imagem do Brasil como ator relevante na nova arquitetura global de segurança, demonstrando disposição para fornecer soluções tanto para países com orçamento restrito quanto para nações que buscam diversificar fornecedores diante das incertezas geopolíticas.

Avanços concretos para a indústria nacional

A feira foi palco de importantes anúncios. A Embraer vendeu quatro aeronaves C-390 Millennium para a Suécia, ampliando sua penetração em mercados estratégicos. A Marinha do Brasil, por sua vez, firmou parceria com a empresa SIATT e com o conglomerado EDGE, dos Emirados Árabes, para o desenvolvimento do míssil antinavio MANSUP e de sua versão de longo alcance (MANSUP-ER). Também foi assinado um memorando com a Marinha Real Britânica para aquisição de dois navios da classe Albion, reforçando a interoperabilidade com parceiros europeus.

Essas iniciativas evidenciam a maturidade tecnológica da BID e sua capacidade de participar de cadeias produtivas globais, mesmo em um contexto de escassez de componentes e pressão por autonomia estratégica nos países compradores.

Diálogos promissores com grandes players internacionais

Durante o evento, empresas como BAE Systems, Rheinmetall, Hanwha e Leonardo participaram de encontros com o Exército Brasileiro, interessadas em integrar programas como o SISFRON, o Forças Blindadas e o Programa de Defesa Cibernética. A BAE Systems, em particular, sinalizou interesse em colaborar com o fornecimento de plataformas adaptadas às especificidades da Força Terrestre, com possibilidade de produção local e transferência de tecnologia.

Essas tratativas podem resultar em acordos estruturantes, nos quais o Brasil não apenas recebe equipamentos prontos, mas passa a integrar o ciclo de desenvolvimento, produção e manutenção — fator essencial em tempos de cadeias logísticas sob pressão e crescente regionalização das capacidades industriais de defesa.

Projeção internacional da BID

A demanda crescente por tecnologias de comando e controle, radares táticos, comunicações seguras, armamentos inteligentes e soluções não letais abriu espaço para empresas como AEL Sistemas, Avibras, Kryptus, CONDOR e IACIT. Países de diversas regiões buscaram informações sobre capacidades específicas da indústria brasileira, especialmente em áreas como guerra eletrônica, mísseis táticos, inteligência artificial embarcada e neutralização de drones hostis — todas tecnologias impulsionadas por aprendizados diretos do campo de batalha na Ucrânia.

A LAAD 2025 foi mais do que uma feira de exposição: foi um termômetro da nova geopolítica da defesa. Em um mundo onde a competição entre potências redefine alianças e onde a guerra volta a ser fator determinante nas decisões estratégicas, o Brasil se apresentou como um ator equilibrado, com indústria em processo de amadurecimento, política externa pragmática e capacidade de fornecer soluções sob medida.

Os contratos assinados, as dezenas de reuniões bilaterais e os acordos em negociação apontam para um novo ciclo de crescimento da BID brasileira.

Autor

  • Daniel Tavares: Coronel (reserva) do Exército Brasileiro, analista militar na Arko Advice. Formado na Academia Militar das Agulhas Negras e mestre em Ciências Militares com especialização em Política, Estratégia e Alta Administração. Experiência no Gabinete do Comandante do Exército, chefiou a Divisão de Inteligência do Centro de Inteligência do Exército. Também atuou como analista de informações na Missão das Nações Unidas no Haiti e comandou o 10º Batalhão de Infantaria Leve (Montanha) em Juiz de Fora, MG.

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