O desgaste na relação entre governo e Congresso se agravou novamente com a derrubada do decreto que elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O movimento do presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), pegou de surpresa o Planalto, que imaginava ter mais tempo para discutir alternativas à elevação do imposto.
O placar acachapante pela sustação do decreto evidenciou que a única base fiel que resta ao governo no Congresso é a formada por parlamentares do PT. Na Câmara, o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) foi aprovado por 383 votos favoráveis e 98 votos contrários. Já no Senado, a votação foi simbólica, mas fontes informaram que a diferença de votos foi significativa.
A falha por parte da articulação política, ao não detectar a possibilidade de votação do mérito, gerou insatisfação inclusive dentro da bancada petista. Durante a quarta-feira (25) de deliberações, com a Câmara esvaziada, foi possível observar os parlamentares petistas sem poder para travar a discussão e tentando entender o que estava acontecendo.
Nos bastidores, como não se sabia oficialmente a motivação para o movimento de Hugo Motta e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), suposições foram levantadas. Por exemplo: a sugestão do governo de editar uma medida provisória para evitar o possível aumento na conta de luz – revertendo algum ponto da derrubada do veto das eólicas offshore. Ou a fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), em sentido contrário ao projeto que elevou o número de deputados federais. Há ainda a insatisfação com a demora na liberação de emendas e a ofensiva do ministro Flávio Dino, do Supremo, sobre os recursos. Todas essas hipóteses foram ventiladas nos corredores da Câmara. E todas com sentido de críticas à estratégia do governo.
Não é a primeira vez que problemas na relação entre Executivo e Legislativo geram avaliações divergentes dentro da bancada. Além das críticas aos caminhos escolhidos, reclamações antigas ainda são observadas por parlamentares, como os ruídos na comunicação, o distanciamento do presidente Lula (PT) da articulação política, as derrotas impostas à bancada no Parlamento.
Faz-se cada vez mais urgente uma reavaliação por parte do Planalto sobre os caminhos para os quais deseja levar o atual governo. O desgaste com o Legislativo está escalando a tal ponto que pode tornar impossível uma reaproximação em véspera de ano eleitoral. Além disso, tal desgaste pode fortalecer o campo da centro-direita para o próximo pleito.