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Análise: Indefinições e desafios marcam o debate sucessório

O país permanece muito dividido

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O cenário sucessório de 2026 é marcado por indefinições e desafios. Ainda que o presidente Lula (PT) lidere os cenários de intenção de voto, ele tem desafios importantes pela frente. O primeiro aspecto a ser observado é que o país permanece muito dividido. Segundo o AtlasIntel, 50,8% aprovam Lula, enquanto 48,3% desaprovam. Na pesquisa da Quaest, 51% desaprovam o presidente, enquanto 46% o aprovam.

Embora Lula disponha de um eleitorado cativo sólido, há um clima na opinião pública desafiador para Lula. De acordo com a Quaest, 50% acham que o governo está pior do que o esperado; 58% consideram que o Brasil está na direção errada; 67% avaliam que Lula não está conseguindo cumprir as promessas de campanha; 61% afirmam que ele perdeu a conexão com o povo; 48% dizem que a economia piorou; e 59% entendem que o presidente não deve disputar a reeleição.

Por outro lado, Lula contará com importantes recursos para melhorar sua popularidade. O presidente terá à sua disposição R$ 252 bilhões em projetos aprovados pelo Congresso Nacional para estimular a economia. Sem falar na provável aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil por mês.

A oposição, por sua vez, lida com um cenário ainda mais complexo. Mesmo que os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) continuem apostando na anistia, as articulações lideradas pelo deputado Paulinho da Força (SD-SP), pelo deputado Aécio Neves (PSDB-MG) e pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) em prol da pacificação no país podem impactar o tabuleiro. O anúncio de que o PL da Anistia será transformado em PL da Dosimetria mostra a disposição de Paulinho, relator do projeto, de reduzir penas, mas não de aprovar a anistia. Essa opção, além de evitar conflitos com o Supremo Tribunal Federal (STF), pode desaguar em uma construção para 2026.

Caso essa concertação prospere, Jair Bolsonaro estaria definitivamente fora da sucessão. Isso provocaria uma “virada da página” no campo da centro-direita, deflagrando a construção do candidato de oposição que enfrentaria Lula, caso este de fato concorra. No entanto, resta saber como o bolsonarismo reagirá a esse acordo, já que a anistia é o item número 1 da agenda bolsonarista.

Independentemente do desdobramento da discussão em torno da anistia, a oposição deve seguir dividida, tendo que lidar com o desafio estratégico de atrair os votos do bolsonarismo sem ser afetada pela rejeição a Jair Bolsonaro.

O levantamento da Quaest mostrou que Bolsonaro permanece com um capital político relevante. No entanto, o nível de rejeição a ele traz obstáculos para quem se associar ao ex-presidente. De acordo com a Quaest, a rejeição ao ex-presidente nos últimos 30 dias cresceu de 57% para 64%.

Ainda sobre Jair Bolsonaro, 54% afirmam que o ex-presidente participou da tentativa de golpe; 76% acham que Bolsonaro deve abrir mão da candidatura e apoiar outro candidato; e 49% têm mais medo do retorno de Bolsonaro do que a permanência de Lula na Presidência.

O ambiente de mudança existente na opinião pública combinado com o desgaste do clã Bolsonaro deixa a eleição em aberto. Na menção espontânea, 68% dos entrevistados ainda não têm candidato. Assim, mesmo que o espaço para um nome dissociado do lulismo e do bolsonarismo seja reduzido, percebe-se que há demanda por uma novidade.

Outra questão a ser observada pela oposição diz respeito a uma eventual divisão da direita. O Quaest simulou cenários em que aparecem o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Tarcísio registra 20% das intenções de voto contra 16% de Eduardo. E também entre Eduardo e o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), onde Eduardo aparece com 21% contra 16% de Ratinho. Nas duas situações, Lula lidera, com 40%.

A hipotética presença de um nome do clã Bolsonaro e outro da direita pragmática seria desfavorável à oposição, pois estabeleceria uma disputa pela vaga no segundo turno contra Lula, o que pode acabar beneficiando o presidente.

Neste momento, a sucessão é marcada por um paradoxo. Mesmo tendo um governo em que a desaprovação é alta, Lula lidera as pesquisas. Por que isso está ocorrendo? Seria consequência da falta de um candidato de oposição e também da pulverização da direita? Se essas são as causas do paradoxo, quando a oposição construir esse candidato a disputa pode ficar desfavorável a Lula.

Por outro lado, se nomes da oposição não empolgarem, a combinação da rejeição de Bolsonaro somada às dificuldades da direita em lidar com o desafio estratégico de atrair o voto bolsonarismo, sem ser penalizada com a rejeição do ex-presidente, criaria um dilema de difícil resolução para a direita. Essas são questões ainda sem respostas, mantendo a sucessão aberta e indefinida.

Autor

  • Analista Político da Arko Advice. Doutorando em Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Bacharel em Ciência Política (ULBRA-RS). Especialista em Ciência Política (UFRGS). Tem MBA em Marketing Político (Universidade Cândido Mendes).

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