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Análise: Governo vai buscar apoio no varejo

Essa estratégia se revela mais compatível com o quadro atual

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A derrubada da Medida Provisória (MP) nº 1.303/25, que tributava aplicações financeiras isentas, fez o governo assimilar a realidade da relação com os partidos de centro/direita que possuem cargos na estrutura federal. Até então, mesmo com vários episódios de traição, o Palácio do Planalto insistia em trata-los como integrantes da base aliada e cobrar fidelidade.

União Brasil, PP, PSD, MDB e Republicanos, com níveis diferentes de adesão, não deveria ser considerados parceiros da atual gestão, uma vez que seus suportes ao governo se mostraram inconsistentes. Esses partidos possuem alas oposicionistas expressivas (amplamente majoritárias no caso de União e PP) e contribuem apenas com frações de apoio. Os ministros filiados a esses partidos conseguem entregar somente uma pequena parcela dos votos de seus correligionários, embora atendam a pleitos de toda a bancada. Além disso, alguns parlamentares, mesmo assumindo abertamente postura de oposição, desfrutam de benefícios da administração federal.

Entretanto, com a queda do decreto do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e agora da MP nº 1.303, a articulação política do Planalto resolveu mudar a forma de relacionamento. Após as derrotas, iniciou uma limpa na folha de cargos para retirar indicados de parlamentares considerados traidores e redistribuir esses espaços a deputados e senadores mais comprometidos com a agenda governista. A ideia é, simultaneamente, punir os infiéis e valorizar os que se mostrarem dispostos a apoiar o governo de forma consistente daqui em diante.

Essa estratégia de busca de apoio no varejo se revela mais compatível com o quadro atual, visto ser improvável obter o apoio institucional dessas legendas. Esse cenário adverso se aprofunda ainda mais com a aproximação das eleições e as manifestações de preferência por projetos eleitorais distintos. Com esse ajuste, o custo da manutenção de apoios pode ser otimizado. Mas, para funcionar, é preciso manter uma gestão bastante cuidadosa, em formato “butique”, para manter esse grupo alinhado aos interesses do governo.

É evidente que essa mudança de postura envolve riscos. O governo se expõe a críticas de fisiologismo e reforça a percepção de fragilidade no Congresso. No entanto, a alternativa seria assistir passivamente à perda definitiva da condução da agenda. De outro lado, há de se considerar que, embora o advento das emendas impositivas tenha trazido menor dependência dos congressistas ao Executivo, o impacto eleitoral de benesses estatais adicionais ainda é considerável, especialmente a menos de um ano do próximo pleito.

A estratégia também dialoga com o planejamento eleitoral para 2026, quando o presidente Lula (PT) buscará a reeleição. A tática é preservar grupos aliados em legendas que tendem a marchar na oposição – vide a manutenção de Celso Sabino (União) e André Fufuca (PP) como ministros – para ampliar o leque de apoios além da esquerda.

Autor

  • Jornalista, analista político e consultor. Pós-graduado em Processo Legislativo, com mais de 20 anos de experiência no acompanhamento do Congresso Nacional. Um observador atento da cena política no parlamento.

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