Faltando cerca de um ano para as eleições, a polarização entre Lula e o bolsonarismo segue organizando a política nacional. No entanto, em 2026, o cenário de 2022 não se repetirá, pois, assim como em 2018, um dos dois não poderá se candidatar – em 2018, o impossibilitado foi Lula, em 2026 será Jair Bolsonaro. O pêndulo dessa balança vem sendo ligeiramente favorável à Lula, que venceu o confronto direto em 2022 e vem liderando as pesquisas para 2026. Será que o candidato que vier a ser apoiado por Jair Bolsonaro será mais competitivo que ele próprio frente ao Lula?
Independente da polarização é preciso refletir sobre quais sentimentos deverão acompanhar os eleitores. Alguns deles são mais comuns como inquietação, frustração, banalização e, valorização da possibilidade de mudança ou continuidade. Afinal, parafraseando um grande cientista político de nossos tempos, Adam Przeworski, as eleições importam, sim, cabe-nos refletir sobre o porquê.
As eleições representam um avanço fundamental para o funcionamento da democracia, pois figuram como o principal instrumento histórico de decisão coletiva e de regulação pacífica dos conflitos sociais. Mesmo diante da crescente polarização política no País, continuam sendo o espaço legítimo para a expressão de diferentes interesses e projetos.
No entanto, essa regulação de conflitos tem enfrentado obstáculos, muito por causa da polarização calcificada – termo utilizado pelos cientistas políticos norte-americanos John Sides, Chris Tausanovitzch e Lynn Vavreck – que tem como pilares a ampliação da distância ideológica entre os partidos; a maior homogeneidade interna dos partidos em termos demográficos; e a prevalência das questões identitárias sobre o debate em torno do tamanho do estado, carga tributária e política social.
Mesmo que a calcificação da polarização dificulte a redução dos conflitos, as eleições não perdem sua importância. A possibilidade de alternância de poder proporcionada pelas eleições contribui, ou deveria contribuir, com a redução dos riscos de radicalismos, uma vez que dá ao derrotado a expectativa de retorno futuro e impõe ao vencedor a responsabilidade de governar sob o olhar do seu (não)eleitor. Nesse sentido, elas devem assegurar estabilidade institucional e reafirmar o papel do voto como instrumento de participação política.
Sim, as eleições importam porque têm potencial em evidenciar a necessidade de desconstrução do mito de que o povo governa por meio delas. Elas não são capazes de fazer tudo aquilo que delas se espera, mas, como precisamos ser governados para vivermos em coletividade, devemos vislumbrar a possibilidade de fazermos aquilo que quisermos com nosso voto. Afinal, não se trata de um consenso, é um conflito regulado. Lembremo-nos que a democracia é um sistema onde se pode muito, mas não se pode tudo.
Roguemos para que sejam competitivas, pacíficas e tenham as regras respeitadas.

