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Análise: Do pré-natal ao pós-carnaval: o imbróglio da sucessão no Estado do Rio de Janeiro

Sob tensões de ruptura, base governista atual aguarda decisão do STF para cravar rumo nas eleições de 2026

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O cenário das eleições de 2026 no Estado do Rio Janeiro começou a ser desenhado logo no início de 2025. Quando tudo parecia bem encaminhado, uma reviravolta sacudiu o tabuleiro. A largada foi queimada. Quem mais ganhou com isso? Certamente não foi a posição, nem a oposição. A mídia foi a principal beneficiada, pois passou a veicular movimentos políticos aleatórios, quase que diariamente – alguns até comuns e esperados, mas todos circunscritos num contexto polêmico de possíveis traições ou aproximações sob suspeição.

Contextualizando a crise da base governista

Em virtude da impossibilidade de se candidatar à reeleição, por estar exercendo seu segundo mandato consecutivo, o governador Cláudio Castro (PL), no mês de fevereiro, já se adiantou e anunciou que seu candidato à sucessão seria o atual presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar (União). Mais que isso, traçou um plano que, a priori, se concretizou: retirou o vice-governador Thiago Pampolha (MDB) do caminho, com quem vinha tendo atritos políticos, indicando-o para vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) – assumiu em 21/05 -, para que pudesse garantir maior tempo de tela a seu sucessor escolhido, sobretudo considerando a possibilidade de se desincompatibilizar (04/04/2026) para concorrer a um cargo no Legislativo Federal (sua preferência é o Senado).

Num primeiro momento, embora contrariado com a antecipação de Castro em anunciar o nome de seu sucessor, o clã da família Bolsonaro chegou a desenhar um acordo para apoiar a candidatura de Bacellar: lhes caberia a indicação do vice na chapa ao governo e, teriam prioridade no fechamento da chapa puro-sangue (PL) para as duas vagas do Senado (Flávio Bolsonaro e mais um).

Não obstante ao movimento que parecia ganhar robustez, Washington Reis (MDB), que estava no cargo secretário estadual de transportes e chegou a compor como vice na chapa de Castro nas eleições de 2022, não gostou da antecipação e tensionou os planos do governador, uma vez que tinha um acordo para que seu nome fosse posto como o candidato à sucessão – mesmo que esteja na condição de inelegível (condenado por crime ambiental e loteamento irregular). Desde então, os movimentos de Reis foram vistos como afrontosos por alguns parlamentares da base do governo na Alerj e, ganhou capítulo mais tenso quando Bacellar, enquanto exercia o governo de forma interina, encaminhou a exoneração do secretário (03/07).

Flávio Bolsonaro entrou no circuito e solicitou que Castro revertesse a exoneração e dialogasse com as partes – reconhecendo que tanto Bacellar quanto Washington erraram. No entanto, o governador a manteve, o que fez Jair Bolsonaro anunciar, de imediato, que não apoiaria Castro, nem Bacellar. Reis sempre foi fiel escudeiro do clã Bolsonaro e um grande cacique da baixada fluminense.

Como agravante, Castro e Bacellar entraram em rota de colisão quando o governador retirou o apoio formal a seu, até então, sucessor.

O principal opositor

Eduardo Paes (PSD), atual prefeito da capital fluminense, se beneficiou do atrito, em certa medida – chegou a fazer aparições públicas ao lado de Washington Reis, o que movimentou a base governista e gerou repercussão na mídia.

Importante registar que, independentemente do rumo que a base governista seguir, Eduardo Paes (PSD), embora negasse até certo momento, é o principal candidato da oposição, que aliás, vem liderando as pesquisas com certa folga – inclusive, o Instituto Paraná Pesquisas, em maio e em setembro, apresentou resultados que indicam a vitória de Paes logo no primeiro turno, acumulando mais 50% das intenções dos votos.

Mas o jogo segue longe de estar ganho: “a política é dinâmica”.

Paes precisa cuidar de certos fantasmas históricos, vide exemplos:

i) enfrenta dificuldade em conquistar o eleitorado do interior do estado,

ii) nas eleições de 2024 seu partido conquistou 3 Prefeituras,

iii) O PT, como principal partido aliado, também conquistou 3, enquanto PL (22), PP (17), União (12) e, MDB (9) têm a maioria,

iv) precisa ter um vice que dialogue melhor com o centro-direita e eleitorado evangélico,

v) na sua mais recente tentativa de conquistar o governo estadual  (2018), liderava as pesquisas, mas acabou derrotado pelo outsider Wilson Witzel, que teve o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Apontamentos

A disputa segue aberta. Existem algumas possibilidades em jogo, as quais, inclusive, envolvem certos sacrifícios políticos eleitorais.

Washington Reis, dentre todos, é o que atrai as maiores expectativas de momento. Seu processo, no STF, embora tenha maioria temporária pela manutenção da pena, conta com possibilidade de acordo pela reversão, suscitado pelo ministro Gilmar Mendes. A expectativa é que o julgamento seja concluído até dezembro, no pré-natal.

Uma possível reversão do quadro de inelegibilidade tem potencial significativo para definição dos rumos. Está posto como fator determinante.

Flávio Bolsonaro já comunicou que a decisão ficará para 2026. No Estado do Rio de Janeiro vigora uma máxima que em ano novo, pendências do ano velho só se resolvem pós-carnaval.

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