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Análise: Divisão na União-Progressista fragiliza a direita

Os episódios recentes envolvendo atores da federação refletem essa percepção

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Em abril, quando foi anunciada a criação da superfederação União-Progressista (UPb), entre União Brasil e PP, o Política Brasileira já alertava para as dificuldades que a nova agremiação enfrentaria diante das divergências internas que a permeiam. Na época, reproduzimos a visão de membros dos dois partidos de que a parceria fora construída com base nos interesses das cúpulas dos dois partidos. Os episódios recentes envolvendo atores da federação refletem essa percepção.

A atuação de Antônio Rueda e Ciro Nogueira, presidentes, respectivamente, do União e do PP, vem contrariando importantes integrantes do grupo. A defesa intransigente do rompimento total com o governo Lula (PT) e uma condução centralizada nos rumos eleitorais eram, até então, motivos de insatisfação de bastidor. Agora, a insatisfação tornou-se pública.

Os dois dirigentes foram desafiados pelos ministros Celso Sabino (União-PA) e André Fufuca (PP-MA), que se recusaram a atender à imposição de deixar a Esplanada dos Ministérios. Punidos com o afastamento de suas funções partidárias, ambos calcularam permanecer ao lado do presidente Lula (PT), cuja tentativa de reeleger-se eles devem apoiar, contando com o suporte do presidente em suas pretensas candidaturas ao Senado.

A posição de Sabino e Fufuca encontra respaldo em mais membros da federação, contrários ao estilo impositivo da cúpula. Assim, outras lideranças com cargos no governo também resistem a romper com o Planalto. O ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) e o atual comandante do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), por exemplo, não demonstram entusiasmo pela ideia de desembarque.

Embora a postura de oposição ao governo – decisiva para a derrubada recente da MP da tributação de aplicações financeiras – detenha ampla adesão no interior das legendas, a discussão sobre uma candidatura presidencial alternativa não une a federação. As recentes declarações de Ciro Nogueira sobre nomes viáveis no campo da direita provocaram nova reação pública. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), criticou Ciro duramente, acusando-o de impor seu interesse em ser vice numa eventual chapa presidencial com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), ao descartar sua pré-candidatura e atropelar a liderança do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Além das divergências nacionais, a UPb terá de lidar com arranjos regionais. Em muitos estados, a nova configuração gerou submissão entre antigos rivais, e a expectativa é de que União Brasil e PP sofram desfiliações na janela partidária do próximo ano. Mesmo com o PL como principal força da direita, a federação é peça-chave para o êxito do projeto sucessório de oposição. Mas a divisão interna tende a minar as chances de vitória frente à atual gestão.

Autor

  • Jornalista, analista político e consultor. Pós-graduado em Processo Legislativo, com mais de 20 anos de experiência no acompanhamento do Congresso Nacional. Um observador atento da cena política no parlamento.

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