O tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil, mesmo deixando quase 700 itens isentos, e a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mexem no tabuleiro da sucessão de 2026. Até então, o presidente Lula (PT) registrava uma desaprovação cerca de 10 pontos percentuais acima da aprovação. Diante do impacto negativo do tarifaço e da sanção contra Moraes na opinião pública, ocorreu uma aproximação dos índices de aprovação e desaprovação.
Ancorado na narrativa da defesa da soberania nacional e diante do desgaste do bolsonarismo, consequência da atuação do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos, Lula conseguiu apropriar-se da defesa do Brasil, bandeira que tem sido um importante mote do bolsonarismo. Neste momento, Lula venceria todos os possíveis adversários do campo da direita em um eventual segundo turno. Mas a vantagem de Lula gira em torno de apenas 10 pontos. Assim como em janeiro a leitura de que Lula estaria no “caminho da derrota” era apressada, o mesmo ocorre agora com um suposto “favoritismo irreversível”.
Além de o governo não controlar eventos como eventuais novas sanções por parte dos EUA em função da aproximação do governo brasileiro com a Rússia e investigações sobre o PIX, o imponderável sempre pode ocorrer na política. Assim, ainda não é possível mensurar o impacto do tarifaço sobre a economia nem prever a reação do eleitorado a ela. A repercussão se manterá positiva para Lula ou isso mudará? Haverá compartilhamento de responsabilidades entre Lula, Bolsonaro e Trump? Fora isso, medidas sociais, como a ampliação do Vale Gás e a provável aprovação do projeto que isenta de Imposto de Renda quem ganha mais de cinco R$ 5 mil mensais podem ajudar Lula.
A direita, por outro lado, está mais dividida. Com o desgaste do bolsonarismo, os desafios aumentaram. Embora Bolsonaro permaneça como o grande cabo eleitoral da direita, o impacto negativo da associação com Trump faz com que os presidenciáveis de oposição necessitem calibrar acenos ao eleitorado bolsonarista e evitar ficarem “presos” à agenda radical do ex-presidente.
Outra incógnita são os governadores pré-candidatos ao Planalto. Continuarão apostando no jogo nacional ou optarão por trabalhar a manutenção de poder em seus estados? Faltando mais de um ano para a sucessão de 2026, o jogo ficou mais imprevisível. Lula está em vantagem, será competitivo e conta com favoritismo parcial. No entanto, seu adversário ainda não está posto no tabuleiro. Além disso, em um cenário polarizado, fatos novos têm o potencial de mudar tendências conjunturais.

