31.5 C
Brasília

Análise: Dependência da direita ao bolsonarismo

Caso Bolsonaro permaneça inelegível, Tarcísio desponta como o nome com maior capital político e eleitoral para unificar o campo conservador

Data:

A eleição de 2026, para a direita, não será somente uma disputa contra a esquerda. Antes de tudo, será um embate interno: por espaço, por identidade e, sobretudo, pela bênção do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ainda dominante entre os conservadores, mas, até o momento, inelegível por decisão judicial.

Essa tensão revela uma direita em busca de identidade e liderança, dividida entre a fidelidade ao bolsonarismo e a tentativa de ampliar sua base eleitoral. Mesmo fora da disputa, Bolsonaro continua sendo o principal “polo gravitacional” da direita. Sua inelegibilidade, resultado da condenação pelo TSE por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, não o afastou da arena política, apenas o impediu de ocupar diretamente o centro do palco.

Esta análise foi publicada primeiro no Cenários Políticos, exclusivo para clientes Arko Advice. Para saber como receber, CLIQUE AQUI.

O dilema da direita: entre fidelidade e renovação

A direita brasileira não conseguiu, ou não quis, se desvincular do bolsonarismo. Existe uma dependência simbólica e estratégica em relação a Bolsonaro, motivada pelo receio de perda de força política. Como mantém sua base mobilizada, Bolsonaro tem nas mãos o poder de inflar ou queimar candidatos que buscam redirecionar seu eleitorado.

Essa vinculação, no entanto, dificulta o surgimento de uma alternativa viável à direita do espectro político. A polarização entre Lula e Bolsonaro deixou pouco espaço para alternativas centristas ou moderadas. Tentativas de “entrar pelo meio”, sem a transferência dos votos de Lula ou de Bolsonaro, com candidaturas que buscavam romper com a radicalização, fracassaram nas eleições recentes, como evidenciam as experiências de João Doria e Simone Tebet. Assim, grande parcela da direita não demonstra intenção de se apresentar como uma “terceira via”.

Quem será o herdeiro de Bolsonaro?

Porém, o fato é que Bolsonaro tem pouca chance de se reabilitar politicamente, levando a uma busca velada pelo apoio do ex-capitão. Entre os nomes apontados como possíveis herdeiros políticos ou representantes da direita pós-Bolsonaro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, se destaca. Ex-ministro do governo Bolsonaro, ele adota uma posição estratégica: mantém-se suficientemente próximo do ex-presidente para garantir o apoio da base, ao mesmo tempo em que busca dialogar com outras alas da direita, como empresários, liberais e conservadores moderados.

Caso Bolsonaro permaneça inelegível, Tarcísio desponta como o nome com maior capital político e eleitoral para unificar o campo conservador. Ser governador de São Paulo, o estado mais populoso e economicamente relevante do país, confere a ele uma posição privilegiada no cenário nacional e o coloca como um forte presidenciável.

O que se desenha, portanto, é a tentativa de Bolsonaro de manter as rédeas sobre seus possíveis sucessores. Mesmo fora da disputa, ele quer decidir quem estará nela. Essa postura cria um ambiente de tensão constante entre os que almejam protagonismo e a necessidade de demonstrar lealdade à figura que ainda comanda o coração do eleitorado conservador.

Outros nomes, como Ratinho Jr. e Ronaldo Caiado, também se movimentam. No entanto, todos enfrentam o mesmo dilema: como usufruir do apoio de Bolsonaro sem se tornarem reféns do seu legado? O próprio Caiado afirmou que concederia anistia ao ex-presidente, caso eleito em 2026.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, hoje filiado ao PSD, já se colocou como um nome viável ao Planalto, mas aposta em um discurso de conciliação. Ao comentar sobre um possível apoio de Bolsonaro, Leite foi direto:

“Não acredito que seja o presidente Jair Bolsonaro quem determinará a sucessão. Não estou satisfeito com a polarização, nenhum desses polos ou líderes”, disse Leite.

A anistia

Bolsonaro permanece como um “grande eleitor” e seu apoio é visto como essencial por
qualquer candidatura que deseje se apresentar como representante do campo
conservador. Essa necessidade de guiar o debate na direita tem uma relação direta com a
defesa da anista dos presos do 8 de janeiro. Se admitisse a possibilidade de não ser
candidato, Bolsonaro fragilizaria a narrativa de perseguição política e a mobilização por
sua própria anistia perderia força, causa que ainda mantém forte apelo entre seus
apoiadores mais fiéis.

Autor

  • Formada em jornalismo pelo UniCeub e graduanda em Ciências Políticas. Atuou como repórter na TV Cultura, Record, Metrópoles e R7. Atualmente, na Arko Advice cobre Congresso Nacional. Vencedora do Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde e Bem-Estar e do Expocom/Intercom Centro-Oeste. Também conquistou lugar no Prêmio Paulo Freire de Jornalismo.

    Ver todos os posts

Compartilhe

Inscreva-se

Receba as notícias do Política Brasileira no Whatsapp

Leia Mais
Relacionado

Senado adia análise de projeto que cria espaço fiscal para medidas contra tarifaço

CAE posterga votação do PLP 168/2025 após pedido de vista

Parlamento francês derruba Bayrou, e Macron inicia busca por novo primeiro-ministro

Crise política na França pressiona orçamento e provoca protestos

Análise: Anistia é incerta e possivelmente demorada

Na última semana, com o início do julgamento do...

Pré-sal Petróleo prorroga prazo para leilão dos campos de Mero, Tupi e Atapu

Interessados têm até quarta-feira (10) para enviar manifestações