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Análise: governo busca reduzir danos na CPMI do INSS

O líder do PT, senador Rogério Carvalho (SE), anunciou que orientaria a base governista a apoiar a instalação da comissão

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Na última semana, enquanto o ministro da Previdência, Wolney Queiroz (PDT), depunha no Senado, o governo começou a mudar sua estratégia em relação à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) proposta pela oposição para investigar fraudes no INSS. O líder do PT, senador Rogério Carvalho (SE), anunciou que orientaria a base governista a apoiar a instalação da comissão. No mesmo dia, o senador Fabiano Contarato (PT-SE) assinou o requerimento de criação da CPMI.

A mudança de postura ocorreu após uma longa viagem do presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (União-AP), ao lado do presidente Lula (PT). Nos bastidores, a avaliação é de que o governo e Alcolumbre concluíram que seria inviável impedir por muito tempo a instalação do colegiado. Em 2021, a CPI da Covid foi instaurada por determinação judicial após recurso de senadores ao Supremo Tribunal Federal (STF) —precedente que reforça tal percepção. Diante do inevitável, o governo passou a adotar uma estratégia de contenção de danos.

Além de possíveis desdobramentos jurídicos, a CPMI deve ter forte impacto na mídia, com foco na opinião pública e nas eleições de 2026. A oposição tende a responsabilizar Lula pelas fraudes, enquanto o governo pretende sustentar a narrativa de que foi sua própria gestão que determinou a apuração. Durante a audiência no Senado, Wolney Queiroz repetiu diversas vezes que “foi o governo Lula que mandou chamar a polícia”, dando início à operação no INSS.

Agora, segundo Rogério Carvalho, o governo busca participar ativamente da CPMI para assegurar uma investigação “ampla” — ou seja, que contemple também a atuação do governo de Jair Bolsonaro (PL) e, possivelmente, de gestões anteriores. As fraudes, segundo indicam os dados, não se iniciaram no atual governo.

Para influenciar os rumos da comissão, o Executivo tenta intervir na escolha dos cargos-chave, como presidência e relatoria. Consciente de que dificilmente conseguirá emplacar um nome do PT, o Executivo planeja apoiar um perfil intermediário. A deputada Tábata Amaral (PSB-SP) surge como favorita. Em entrevista ao UOL, ela declarou: “Esse é um esquema de corrupção que começou no governo [Michel] Temer, cresceu com Bolsonaro e se perpetuou com Lula. Não cabe aqui falar em esquerda e direita.”

Entretanto, reduzir danos não significa que a defesa será efetiva. A oposição deve explorar a CPMI como instrumento de desgaste político de Lula. Ainda que as fraudes tenham se iniciado há anos, foi no atual governo que os descontos indevidos se intensificaram, segundo dados da própria Controladoria-Geral da União (CGU). Será difícil contornar esse fato.

Autor

  • Jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Coordenador de jornalismo na Arko Advice, contribui para o Política Brasileira com bastidores da política nacional. Tem passagem como repórter pelo Correio Braziliense, Rádio CBN e Brasil61.com. Mestrando em Ciência Política.

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