Na mais recente demonstração de sua controversa diplomacia, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, constrangeu publicamente o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, ao acusar o país de promover um suposto “genocídio branco” durante uma reunião oficial na Casa Branca. O episódio, amplamente criticado por diplomatas e analistas, expôs uma estratégia recorrente de Trump: utilizar o palco do Salão Oval para embaraçar líderes estrangeiros e impor sua narrativa, mesmo diante de fatos contestados ou desmentidos.
A encenação
O constrangimento foi cuidadosamente coreografado. Após uma breve recepção cordial, Trump ordenou que as luzes do Salão Oval fossem apagadas, e exibiu um vídeo para o presidente sul-africano. O vídeo, segundo Trump, seria prova de uma perseguição sistemática a fazendeiros brancos, tese rejeitada tanto pelo governo sul-africano quanto por organismos internacionais.
Ramaphosa, visivelmente desconfortável, rebateu as acusações, afirmando desconhecer as imagens e reiterando que o governo sul-africano é contrário a qualquer tipo de violência ou política de extermínio. Ele destacou ainda que a maioria das vítimas de crimes violentos no país são negras, e que o vídeo apresentado por Trump não reflete a realidade.
A agência de notícias Reuters, dona das imagens, informou que o vídeo na realidade mostra voluntários recolhendo corpos de vítimas de um massacre na cidade de Goma, na República Democrática do Congo. O país está na região central da África, distante milhares de quilômetros da África do Sul.
Repetição de um padrão
O episódio não é isolado. Desde que reassumiu a presidência, Trump tem usado encontros com líderes estrangeiros para encenar situações de embaraço público, como já havia feito com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em fevereiro deste ano. A estratégia, segundo analistas, busca pressionar países considerados “menos influentes” ou com políticas que desagradam à Casa Branca, além de alimentar sua base política interna com temas sensíveis e polarizadores.
A postura de Trump ameaça deteriorar ainda mais as relações dos EUA com parceiros estratégicos. No caso da África do Sul, a situação já era tensa após cortes de ajuda financeira, expulsão do embaixador sul-africano e concessão de status de refugiado a brancos sul-africanos, medidas que aprofundaram o desgaste bilateral. O episódio com a África do Sul também aparenta ter ligações com o bilionário Elon Musk, que é sul-africano e tem usado a rede social X (antigo Twitter), da qual é dono, para impulsionar movimentos de extrema-direita pelo mundo.
A estratégia de Donald Trump de constranger convidados estrangeiros, como fez com o presidente da África do Sul, revela uma abordagem diplomática baseada no confronto e na humilhação, frequentemente sustentada por alegações sem respaldo factual. O episódio evidencia não apenas a disposição de Trump em usar o poder simbólico da presidência para fins políticos, mas também os riscos de isolamento e desgaste internacional para os Estados Unidos.

