A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos e três meses de prisão na ação penal da trama golpista domina o noticiário e gera um clima de euforia em parte da esquerda e entre formadores de opinião, em especial entre a chamada intelectualidade progressista. No entanto, apesar do desgaste que Bolsonaro acumula, sua condenação divide a opinião pública e, mais do que isso, seu capital político permanece preservado.
Segundo a pesquisa CNT/MDA divulgada na semana passada, 49,6% dos entrevistados consideram justa a condenação do ex-presidente, enquanto 36,9% a acham injusta. Ou seja, uma parte significativa do eleitorado continua alinhada a Bolsonaro mesmo diante de uma conjuntura negativa para o ex-presidente. Esse capital político de Bolsonaro faz com que, mesmo após a sua condenação, a articulação em favor da anistia permaneça forte no Congresso, principalmente após o voto do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), contra a ação penal da trama golpista.
Independentemente do desdobramento do tema anistia, a escolha do candidato da direita para as eleições de 2026 passará pelo ex-presidente. Ainda sem um nome natural para o pleito, a direita terá de lidar com desafios importantes, como atrair o voto dos simpatizantes de Bolsonaro sem ser afetada pela rejeição a ele. Essa complexa operação política envolverá a anistia e, posteriormente, a definição do candidato a presidente.
No curto prazo, a condenação de Bolsonaro reforça dois pilares da estratégia do presidente Lula (PT): a defesa da democracia e a da soberania, transformadas no slogan oficial do Planalto desde que o Brasil se tornou alvo de sanções dos Estados Unidos. Também está ajudando Lula na queda da inflação, sobretudo de alimentos.
Contudo, eventuais novas sanções por parte dos Estados Unidos, ao mesmo tempo que podem reforçar a narrativa da defesa da soberania, podem, dependendo de seu impacto, trazer mais prejuízos para a economia, respingando em Lula.
Como a condenação de Bolsonaro não mudará o cenário de polarização no país, visto que a direita, mesmo dividida, depende do ativo eleitoral do ex-presidente, Lula beneficia-se da conjuntura neste momento. Mas o cenário está em aberto, já que o governo tem tido pouco a apresentar, além das mencionadas narrativas de defesa da democracia e da soberania. Até 2026, essa pauta pode ser vista como uma agenda do “passado”.
Com Bolsonaro mais desgastado e Lula registrando um saldo negativo de popularidade, o eleitor, que está cada vez mais crítico em relação à política, demandará novidades. Nesse delicado cenário, levará vantagem quem conseguir representar de futuro de esperança.