As medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), impedindo-o de utilizar as redes sociais e obrigando-o a estar em casa após as 19 horas, impactam a estratégia da direita para as eleições de 2026.
Embora o ministro Alexandre de Moraes, do STF, tenha dito que Bolsonaro não está impedido de conceder entrevistas, elas não podem ser reproduzidas nas mídias digitais, o que cria uma série de obstáculos para o ex-presidente. Como o que circula na televisão é compartilhado nas redes sociais – e vice-versa – o risco de Bolsonaro ser preso se conceder uma entrevista se torna considerável.
Mesmo que o bolsonarismo esteja organizando atos em defesa de Jair Bolsonaro e contra o Supremo para o dia 3 de agosto, um domingo, a presença de Bolsonaro no debate público tende a se reduzir.
Inicialmente, a direita deve seguir dividida. Sem um candidato natural alternativo a Jair Bolsonaro, devem continuar movimentando-se como presidenciáveis os seguintes governadores: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP); Romeu Zema (Novo-MG); Ronaldo Caiado (União Brasil-GO); e Ratinho Júnior (PSD-PR). Na família Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) também são opções. O PSD, além de Ratinho, tem como alternativa o governador Eduardo Leite (PSD-RS), caso prefira optar por alguém mais ao centro.
Apesar de a direita contar com várias opções, a construção de um entendimento desafiará a oposição. Na última quinta-feira (24), Eduardo Bolsonaro voltou a criticar Tarcísio, cobrando o fato de o governador paulista ter como seu líder na Assembleia Legislativa o deputado estadual Guto Zacarias (União Brasil), um crítico do ex-presidente. A postura de Eduardo prejudica a direita, já que estimula a divisão da oposição.
Desde o anúncio do tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump ao Brasil, parte do “Centrão” e do setor produtivo estão mais distantes do bolsonarismo. Ainda que simpatize com Tarcísio de Freitas, essa parcela da direita e do centro sabe que o governador de São Paulo depende do apoio de Bolsonaro se quiser disputar o Palácio do Planalto.
Apesar de Jair Bolsonaro estar com sua atuação política limitada, a narrativa de que ele sofre perseguição política deverá ser utilizada para que Bolsonaro possa esticar ao máximo o prazo de definição de seu sucessor, mantendo, até lá, o controle da direita. No entanto, quando sua condenação se tornar fato consumado, o ex-presidente poderá ter dificuldades, já que então estará mais isolado na opinião pública, no mundo político e entre os setores econômicos. Seu capital político continuará, porém, tendo peso em 2026.