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Análise: Cenários para a oposição nas eleições de 2026

Tende a crescer o entendimento no mundo político, e na opinião pública, de que Bolsonaro estará fora do jogo, ainda que ele insista na narrativa de que será novamente candidato

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O depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na ação penal que julga a chamada “trama golpista” surpreendeu pelo tom adotado por ele. Ao invés de radicalizar a narrativa acenando para sua base social mais fiel, como de costume, o ex-presidente optou por um tom amistoso ao responder às perguntas feitas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Entretanto, a mudança de tom de Bolsonaro não deve alterar sua situação jurídica – a tendência é que o ex-presidente seja condenado. Há, inclusive, advogados projetando uma eventual prisão do ex-presidente já no mês de outubro, um ano antes da sucessão presidencial de 2026. Ou seja, a alteração de postura por parte de Bolsonaro lhe traz poucos benefícios, tanto jurídica quanto politicamente.

Se no campo jurídico o avanço da ação penal não deve registrar surpresas, no âmbito político a provável condenação de Bolsonaro deve intensificar as articulações e as disputas no bolsonarismo, na direita pragmática e também no centro, principalmente no PSD. Por ora, temos dois cenários possíveis no que diz respeito à configuração do tabuleiro de candidaturas presidenciais na oposição.

Como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), evita assumir uma eventual pré-candidatura ao Palácio do Planalto, mantendo sua lealdade a Jair Bolsonaro e afirmando que o ex-presidente é seu candidato, o primeiro cenário indica uma divisão na oposição. Se Tarcísio, de fato, não concorrer, o bolsonarismo deve lançar um candidato próprio, que pode ser a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) ou o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL), filho de Jair.

Outra possibilidade nesse primeiro cenário é Jair Bolsonaro, mesmo inelegível e eventualmente preso, tentar registrar sua candidatura, apesar de saber que esta será indeferida, repetindo o que o presidente Lula (PT) fez em 2018 e postergando, assim, a definição no campo da direita.

Nesse hipotético cenário, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), também poderá ir para a disputa. E o PSD lançaria um nome – o do governador do Paraná, Ratinho Júnior, ou o do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Teríamos, portanto, duas alternativas de direita (Michelle ou Eduardo), uma da direita tradicional (Caiado) e uma opção mais ao centro (Ratinho ou Leite). Embora também figure como pré-candidato, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), tem menores possibilidades de oficializar uma candidatura.

O segundo cenário possível seria o mais vantajoso politicamente para a oposição. Nesse hipotético cenário, haveria um acordo entre Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas, que concorreria ao Palácio do Planalto. A eventual candidatura de Tarcísio teria elevadas chances de unir a direita. Além do apoio do bolsonarismo, que poderia indicar o candidato a vice de Tarcísio, o PSD também estaria ao lado do governador. Embarcariam ainda nesse projeto o PP e o União Brasil, construindo uma robusta aliança de centro-direita que isolaria Lula no campo da esquerda.

Apesar das indefinições na oposição, com a condenação de Jair Bolsonaro, sobretudo se ele for preso, as articulações no centro e na direita entrarão em outro estágio. Embora Bolsonaro seja um eleitor estratégico em 2026, tendo grande peso na definição do candidato da direita, ele poderá, se estiver preso, “desaparecer” do debate político, já que não poderá participar das articulações, nem estar presente nas ruas, nem tampouco atuar nas mídias digitais, sua principal fortaleza. Como consequência, aumentará a pressão para que ele escolha um sucessor.

Outra questão a ser observada envolve Tarcísio, principalmente se o governador paulista disputar o Palácio do Planalto. Caso seja ungido por Bolsonaro, poderá ocorrer o debate sobre uma possível troca de partido. Como Tarcísio é filiado ao Republicanos, um dos vetores da negociação a defini-lo como candidato poderá envolver uma eventual migração de Tarcísio para o PL, partido do ex-presidente.

Mesmo que a definição do futuro político de Jair Bolsonaro – assim como quem será o candidato da direita – não deva ocorrer antes de 2026, tende a crescer o entendimento no mundo político, e na opinião pública, de que Bolsonaro estará fora do jogo, ainda que ele insista na narrativa de que será novamente candidato.

Autor

  • Analista Político da Arko Advice. Doutorando em Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Bacharel em Ciência Política (ULBRA-RS). Especialista em Ciência Política (UFRGS). Tem MBA em Marketing Político (Universidade Cândido Mendes).

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