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Análise: Bolsonaro avalia opções para 2026

Sinais indicam que Bolsonaro deve definir seu candidato somente no último minuto

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Apesar de o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), principal antagonista do presidente Lula (PT), estar inelegível para concorrer ao Palácio do Planalto em 2026, ele sinaliza que continuará tentando viabilizar sua candidatura.

Além da pressão internacional sobre o Supremo Tribunal Federal (STF), sobretudo contra o ministro Alexandre de Moraes, através de uma possível sanção por parte dos Estados Unidos, Jair Bolsonaro insistirá na narrativa da anistia aos condenados pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, bem como em eventuais mobilizações de seus simpatizantes nas ruas para pressionar o Judiciário.

No entanto, é improvável que Bolsonaro consiga reverter sua inelegibilidade. A partir da confirmação de que estará fora do jogo, ele buscará manter o controle da escolha do candidato da direita. Na família, há duas opções: a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL), seu filho.

Com elevada rejeição e alvo de um inquérito aberto por Moraes no STF por supostamente coagir autoridades brasileiras nos Estados Unidos, onde hoje se encontra hoje, Eduardo Bolsonaro tem obstáculos importantes pela frente. Ainda que agrade à base mais fiel do bolsonarismo, ele dificilmente obterá o apoio da direita pragmática. Michelle é uma alternativa mais competitiva. No entanto, por ora, é mais provável que a ex-primeira-dama saia candidata ao Senado pelo Distrito Federal.

Fora do âmbito da família Bolsonaro, o campo da direita apresenta uma pulverização de pré-candidatos: os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). O PSD, por sua vez, embora o presidente nacional do partido, Gilberto Kassab, sinalize que apoiará Tarcísio caso ele dispute o Palácio do Planalto, a legenda já conta com dois pré-candidatos: os governadores Eduardo Leite e Ratinho Jr.

Nesse complexo jogo, temos o surgimento da federação União Progressista, que une PP e União Brasil. A aliança, embora tenha Caiado como pré-candidato, ainda aguarda a evolução da conjuntura para se posicionar nacionalmente. Apesar de União e PP integrarem a base do governo Lula (PT), não devem apoiar o presidente. A tendência é que estejam ao lado da oposição em 2026.

O nome com mais potencial eleitoral para a sucessão presidencial em 2026 é o de Tarcísio de Freitas. Além de comandar o maior estado do país, Tarcísio teria condições de atrair o PSD e o MDB, e também o União Progressista. Ou seja, se o candidato for Tarcísio, a centro-direita deverá ir unida para o pleito, com uma robusta aliança anti-Lula. Entretanto, para Tarcísio ser ungido candidato, ele precisa do aval de Bolsonaro, que ainda mantém seu projeto presidencial ativo. Sem um acordo com Bolsonaro, Tarcísio deve permanecer no cargo, concorrendo à reeleição em São Paulo. Essa definição precisará se dar até abril de 2026, prazo-limite da desincompatibilização.

Dos governadores posicionados como presidenciáveis, apenas Tarcísio pode disputar um novo mandato em seu estado. Já Leite, Ratinho, Caiado e Zema, caso não disputem o Planalto, deverão buscar o Senado. E mais: caso Tarcísio não dispute a Presidência, cresce a possibilidade de a direita se dividir em 2026, o que poderia beneficiar Lula. Não por acaso, o ex-presidente Michel Temer (MDB) tem participado de articulações em favor da união da centro-direita. Essa construção será desafiadora para a oposição a Lula, pois necessita do aval de Bolsonaro. Por outro lado, quem representar o anti-Lula terá o desafio de atrair os eleitores bolsonaristas sem ser afetado pela rejeição ao ex-presidente.

Definição será no último momento

A definição do(s) candidatos(s) de oposição não deverá ocorrer antes de 2026. O primeiro aspecto a ser destacado é que Jair Bolsonaro, pelos sinais que tem emitido, insistirá em ser candidato. Como consequência, as articulações no campo da centro-direita e direita devem ficar travadas. Mesmo que Bolsonaro eventualmente seja condenado pelo STF – e até mesmo preso – ele ainda poderá tentar registrar sua candidatura.

Vale recordar que Lula, em 2018, mesmo preso, tentou viabilizar sua candidatura naquele ano. Em 2018, Lula, mesmo tendo sido preso em abril, fez o pedido de registro da candidatura em 15 de agosto daquele ano. O indeferimento da candidatura ocorreu em 1º de setembro de 2018, quando foi escolhido o hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

Jair Bolsonaro, independentemente de sua situação jurídica, poderá seguir o mesmo roteiro. A eventual insistência de Bolsonaro prejudicaria Tarcísio de Freitas, que para concorrer a presidente, além de deixar o cargo em abril de 2026, necessita construir um arco de alianças que lhe dê sustentação política. Além disso, Tarcísio, para disputar a eleição nacional, necessita manter sua base unida na sucessão em São Paulo.

Entretanto, o desejo de Jair Bolsonaro em disputar novamente o Planalto tende a enfrentar obstáculos importantes. Se eventualmente estiver preso, Bolsonaro ficaria ausente das ruas e também do meio digital, o que faria com que o ex-presidente perdesse tração.

Mesmo com esses eventuais obstáculos, Jair Bolsonaro será o grande eleitor da direita. O ex-presidente será decisivo na definição do candidato da direita. No entanto, mesmo sem Bolsonaro no jogo, o desafio de unir a oposição seguirá, sobretudo se Jair Bolsonaro optar em lançar como sucessor uma das opções do seu núcleo familiar, o que dividiria a direita. Caso opte, por exemplo, por Eduardo ou Michelle Bolsonaro, a oposição tende a se dividir.
Por outro lado, caso Jair Bolsonaro seja convencido de que o pragmatismo deve prevalecer em nome do objetivo de derrotar Lula, a união da direita passará a ser viável, sobretudo se o candidato escolhido foi Tarcísio de Freitas, nome que possui vínculos com o bolsonarismo e transita com na centro-direita.

Autor

  • Analista Político da Arko Advice. Doutorando em Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Bacharel em Ciência Política (ULBRA-RS). Especialista em Ciência Política (UFRGS). Tem MBA em Marketing Político (Universidade Cândido Mendes).

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