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Análise: As cartas de Lula a um ano da eleição

A estratégia combina conquistas concretas com a sinalização de políticas sociais futuras

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Se há alguns meses o governo parecia perdido, sem uma pauta que pudesse ser usada como marca, agora, a um ano das eleições de 2026, o presidente Lula (PT) tem uma clara agenda de propostas com forte apelo popular e busca construir uma plataforma para a reeleição. A estratégia combina conquistas concretas com a sinalização de políticas sociais futuras.

Lula já tem em mãos duas cartas fortes. A primeira é a isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil, uma das promessas centrais da campanha de 2022. Se confirmada pelo Senado, a medida terá impacto direto no bolso de milhões de trabalhadores e será um pilar da propaganda eleitoral. A segunda é a ampliação da Tarifa Social de Energia, que agora isenta totalmente o consumo de até 80 kWh/mês para famílias de baixa renda inscritas no CadÚnico. Embora o custo seja diluído entre os demais consumidores, o benefício foca um eleitorado sensível.

Vale citar que o ambiente geopolítico deu de presente a Lula um discurso eleitoral de defesa da soberania do Brasil. Lula não hesitará em usar o discurso de defensor dos interesses nacionais frente a uma direita que será pintada como subserviente. Além disso, há uma investida significativa no ramo do crédito habitacional. Além do lançamento da faixa 4 do Minha Casa, Minha Vida, que focaliza a classe média, está prestes a ser lançado um programa de reforma de moradias com crédito subsidiado.

Outras cartas no baralho do governo, se não virarem entregas até outubro de 2026, podem se converter em promessas para um novo mandato. A ideia de zerar as tarifas de ônibus em âmbito nacional, embora complexa e sem prazo definido, já movimenta o governo, que elabora estudos para avaliar a viabilidade. O tema é discutido também no Congresso, por meio de projetos como a PEC nº 25/23, da deputada Luiza Erundina (PSOL-SP). Da mesma forma, a proposta de acabar com a obrigatoriedade da autoescola para obter a CNH, atualmente em consulta pública, dialoga diretamente com o eleitor mais jovem.

Impulsionada por movimentos populares, a pauta pelo fim da escala de trabalho 6×1 e pela redução da jornada avança lentamente no Congresso, enfrentando forte resistência do setor empresarial. Apesar da incerteza sobre sua aprovação, o tema mantém a base governista mobilizada e pode ser explorado como compromisso de campanha.

No entanto, o impacto eleitoral das cartas na mão de Lula depende de diversos fatores, como o ritmo de entregas. Se um assunto se torna “velho” na mente do eleitor, o impacto eleitoral se esvai. A capacidade de comunicação, antigo calcanhar de aquiles do governo Lula, também é essencial para avaliar esses impactos. E a posterior propaganda eleitoral em rádio, TV e internet terá papel crucial. O desafio de Lula será manter essas pautas econômicas e sociais no centro do debate público, evitando que novas crises ou temas ofusquem a construção do conjunto de cartas a ser colocado na mesa em 2026.

Autor

  • Jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Coordenador de jornalismo na Arko Advice, contribui para o Política Brasileira com bastidores da política nacional. Tem passagem como repórter pelo Correio Braziliense, Rádio CBN e Brasil61.com. Mestrando em Ciência Política.

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