A relação do governo Lula com o Congresso Nacional nunca foi boa. Sempre foi uma relação de conveniência, para ambos os lados. Era conveniente para o governo ter uma proteção mínima no Congresso. Para os aliados, manter cargos estratégicos no Executivo traz benefícios políticos evidentes.
Com a popularidade do governo em queda, registrando os piores índices dos governos Lula I e II (2003-2010), e à medida que nos aproximamos das eleições de 2026, essa relação vai ficando ainda mais difícil.
Para piorar o quadro, o governo não mantém um canal de diálogo constante com os aliados, atrasa na liberação de cargos e de emendas e insiste em uma pauta que conflita com os setores mais bem articulados no Congresso, como a bancada do agronegócio.
As resistências e as articulações verificadas no Legislativo contra o decreto que aumentou as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a Medida Provisória nº 1.300/25, que trata da tributação de aplicações financeiras e de ativos virtuais, são reflexos dessa relação altamente desgastada.
Mesmo aliados que contam com ministérios no governo, como PP e União Brasil, fecharam posição contra as medidas anunciadas pelo governo. E a insatisfação é generalizada entre os demais partidos.
Os aliados, incomodados com promessas não cumpridas por parte do Palácio do Planalto, lançam mão do argumento de combate ao aumento da carga tributária. E usam a bandeira do corte de gastos como justificativa. Mas há vários projetos no Congresso que podem reduzir gastos e os parlamentares não pautam. Já tramitam o projeto sobre combate aos supersalários e o que ajusta a Previdência dos militares, por exemplo. Simplesmente não andam.
O governo, pelo seu lado, não quer cortar na própria carne e comprometer ainda mais sua popularidade. A Fazenda afirma que não aumenta carga tributária, apenas corrige distorções. Na semana passada, o presidente Lula (PT) criticou a discussão sobre desindexar o salário mínimo de programas sociais, tese defendida até mesmo pela ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB). Em um discurso de olho nas eleições de 2026, Lula disse que está tentando “corrigir este país e é muito difícil”.
A eleição já está interferindo na agenda do governo e na do Congresso. E a relação entre Executivo e Legislativo tende a ficar cada vez mais distanciada.

