O prefeito de Recife, João Campos (PSB), assumiu a presidência nacional de seu partido substituindo Carlos Siqueira, que comandava o PSB desde o precoce falecimento do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pai de João, ocorrido na pré-campanha presidencial de 2014. Embora o discurso de João Campos tenha como foco a manutenção de Geraldo Alckmin (PSB) como vice do presidente Lula (PT) nas eleições presidenciais de 2026, o movimento realizado por João visa à nacionalização do próprio nome, de olho em 2030.
Reeleito prefeito de Recife com 77,48% dos votos válidos nas eleições de 2024, João Campos é o favorito para conquistar o governo de Pernambuco em 2026. Segundo pesquisa realizada pelo instituto Real Time Big Data (8 e 9/04), João lidera a disputa com 67% das intenções de voto, superando a governadora Raquel Lyra (PSD), que deverá buscar a reeleição e registra 22% das preferências.
A reconquista do governo de Pernambuco é fundamental para o projeto do PSB. Os socialistas comandaram o estado por 16 anos, tendo perdido o Palácio das Princesas em 2022. Ao mesmo tempo, João Campos é visto como o principal nome do espectro da esquerda para o futuro. Como o PT não obteve sucesso em construir um nome natural para o pós-Lula, e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) vem de duas derrotas consecutivas nas disputas pela prefeitura de São Paulo, João pode se credenciar como a alternativa da esquerda para a sucessão presidencial de 2030.
João Campos tem atributos políticos importantes. Filho de Eduardo Campos e neto de Miguel Arraes, possui uma trajetória política ascendente. É o representante de uma esquerda arejada, que dialoga com o centro e estabelece parcerias com o setor privado. Em seu discurso, ao assumir o comando nacional do PSB, também demonstrou estar sintonizado com as transformações ocorridas no mundo do trabalho. Destacou o crescimento do empreendedorismo, assim como o da influência da religião. Outra credencial do prefeito de Recife é sua forte atuação nas mídias digitais, setor que os líderes do PT, por terem construído sua trajetória política no sindicalismo, não dominam com tanta facilidade.
Ainda assim, João Campos poderá enfrentar obstáculos para viabilizar um projeto nacional no campo progressista em função da postura hegemônica do PT, que dificilmente abrirá mão de seu protagonismo. No curto prazo, João Campos contará com o PT, afinal de contas Lula e o partido precisarão do apoio do prefeito em 2026. João, por sua vez, necessitará da influência política de Lula em Pernambuco na eleição para governador. Entretanto, para o pós-2026, PSB e PT podem enfrentar conflitos, como já ocorreu na relação com Eduardo Campos em um passado não tão distante.