Pesquisa Datafolha realizada nos dias 29 e 30 de julho revela um cenário eleitoral marcado por um paradoxo que pode definir os rumos de 2026 no país. O presidente Lula lidera as intenções de voto, mas carrega consigo a maior taxa de rejeição entre todos os possíveis candidatos testados, com impressionantes 47% dos entrevistados declarando que não votariam nele de jeito nenhum.
Essa contradição expõe o que pode ser chamado de “maldição da rejeição”. No caso de Lula, mesmo mantendo a liderança nas pesquisas em relação a um hipotético primeiro turno de 2026 e vantagem em cenários de segundo turno, fica claro que ele enfrenta um teto eleitoral praticamente intransponível. Com quase metade do eleitorado brasileiro rejeitando sua candidatura, o petista tem pouco espaço para crescimento, o que gera uma vulnerabilidade estrutural que pode ser explorada por adversários em uma eventual disputa de segundo turno.
A alta rejeição não apenas limita o potencial de expansão eleitoral de Lula, como também facilita a formação de coalizões anti-PT, fenômeno que já se mostrou decisivo em eleições passadas. Além disso, mantém o país em estado de polarização permanente, o que, historicamente, tem se revelado um obstáculo significativo para a governabilidade e a construção de consensos nacionais.
O problema da alta rejeição não se limita, porém, ao campo da esquerda. A família Bolsonaro também enfrenta resistência do eleitorado: Jair Bolsonaro registra 44% de rejeição. É o segundo nome mais rejeitado, ficando logo atrás de Lula. Seus filhos Eduardo (38%) e Flávio (36%), bem como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (36%), apresentam índices igualmente elevados de resistência eleitoral. Esses números demonstram que o bolsonarismo, assim como o petismo, pode ter atingido seus limites de crescimento, abrindo oportunidade para uma renovação no campo conservador.
É nesse contexto que emergem as figuras de Tarcísio de Freitas e Ratinho Júnior como opções estratégicas para seus respectivos campos políticos. O governador de São Paulo registra a menor taxa de rejeição entre todos os nomes testados, com apenas 17%. O governador do Paraná aparece com 21%, uma diferença abissal de 30 pontos percentuais em relação a Lula e de 27 pontos em relação a Jair Bolsonaro.
Tarcísio de Freitas desponta com força nos campos da direita e da centro-direita. Seu perfil técnico, construído durante sua gestão no Ministério da Infraestrutura e consolidado no governo paulista, oferece uma alternativa menos polarizadora ao bolsonarismo tradicional. Com a menor rejeição do espectro político, o ex-ministro possui margem considerável para crescimento e capacidade de atrair eleitores do centro, segmento fundamental para qualquer projeto de maioria eleitoral no Brasil.
Ratinho Júnior, por sua vez, apresenta características similares. Sua experiência à frente do governo do Paraná e seu perfil, menos afeito à confrontação do que os membros da família Bolsonaro, posicionam o governador como uma opção viável para quem busca renovação no centro político sem os custos eleitorais da radicalização. Os 21% de rejeição ainda o colocam em posição muito favorável, na comparação com o percentual dos principais nomes da política nacional. Romeu Zema, governador de Minas Gerais, também aparece na pesquisa com espaço para crescer.
No campo da esquerda, os números representam um sinal de alerta sobre a necessidade de renovação. A alta rejeição a Lula, em que pese sua liderança atual, sugere que o petismo pode estar chegando ao limite de seu potencial eleitoral. No campo da direita, os dados apontam uma oportunidade histórica de superação do bolsonarismo por meio de lideranças com menor resistência eleitoral, especialmente considerando que a família Bolsonaro como um todo enfrenta rejeição substancial.
O cenário desenhado pela pesquisa Datafolha indica que 2026 pode ser o ano em que o eleitorado brasileiro privilegiará a moderação sobre a polarização, a capacidade de diálogo sobre o confronto, e a renovação sobre o continuísmo. A diferença de 30 pontos percentuais entre as rejeições a Lula (47%) e a Tarcísio (17%) e a diferença de 27 pontos entre Jair Bolsonaro (44%) e o governador paulista não são meros dados estatísticos. São também um indicativo poderoso de que o país pode estar maduro para viver uma nova fase de sua democracia. Os números sugerem um eleitorado menos disposto a aceitar figuras altamente polarizadoras e mais inclinado a buscar lideranças com capacidade de unificação nacional e construção de consensos para o futuro.