As comemorações em torno do 7 de Setembro espelharam nas ruas a polarização que divide o país. Articulada pelo pastor Silas Malafaia, a mobilização dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve como lema o slogan “Reaja Brasil: o medo acabou”. Os atos tiveram uma expressiva adesão, sobretudo na cidade de São Paulo.
O ato na capital paulista contou com a presença dos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), além da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e de Malafaia.
O mote central dos aliados de Bolsonaro foi a defesa da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. O presidente Lula (PT) e o Supremo Tribunal Federal (STF) foram os principais alvos de ataque. Protagonista do ato, Tarcísio fez uma forte inflexão na direção do bolsonarismo, reforçando sua lealdade a Bolsonaro.
Tarcísio defendeu a anistia, pediu que o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), paute o projeto, afirmou que “só existe um candidato à Presidência, que é Jair Bolsonaro”, classificou de “injusta” a ação penal da chamada “trama golpista” e chamou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, de “tirano”, mas sem citá-lo nominalmente.
Do lado do governo, os movimentos sociais também realizaram manifestações. O mote foi a defesa da soberania e da democracia e o posicionamento contra a anistia. A adesão nas ruas aos atos do governo foi tímida.
O 7 de Setembro foi marcado ainda por um pronunciamento do presidente Lula (PT) que foi ao ar no dia anterior. Lula apostou na narrativa nacionalista. Destacou a defesa da soberania e atacou os “traidores da pátria”, numa referência à atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos. Na economia, destacou o projeto que isenta de Imposto de Renda quem recebe até R$ 5 mil mensais e fez a defesa do Pix.
As manifestações ocorreram em meio ao julgamento do chamado “núcleo central” da tentativa de golpe, que inclui Bolsonaro, e a mobilização em favor da anistia, que vem ganhando força no Congresso.
O balanço dos atos foi favorável à direita, que, de acordo com o Monitor do debate político, levou 42 mil pessoas às ruas contra 8,8 mil da esquerda. Embora a pressão do bolsonarismo nas ruas não mude os rumos do julgamento da trama golpista, pode dar fôlego ao projeto da anistia no Congresso.
Uma incógnita é saber o impacto da postura de Tarcísio, que fez um discurso típico de candidato a presidente, em prol da narrativa do bolsonarismo raiz. Ainda que Tarcísio ganhe prestígio em meio a esse público, a rejeição a ele pode aumentar.